Geração Covid

por Arsenio Reis
Arsénio Reis

Há mais de 11 anos que me habituei a entrar de mão dada, ou ao lado dos meus filhos na escola que frequentam. Esta semana eles regressam as aulas, mas eu estou impedido de entrar na escola.

Para entrar no edifício, onde os meus filhos passam umas oito horas por dia, só com reunião marcada, ou para uma ida à secretaria tratar de burocracias.

Nesta fase é mais fácil. Os meus dois filhos já estão relativamente crescidos e gostam de ir à escola. Já não é preciso um bom colo, ou a mão apertada que lhes retirava o stress que surgia na subida dos degraus que conduzem ao pátio onde todos conviviam.

Conviviam, porque agora os responsáveis da escola pedem que eles cheguem o mais em cima da hora de entrada e que saiam mal termine a última aula, ou atividade.

Estamos a ensinar-lhes que brincar e conviver com pessoas é perigoso, mesmo com aquelas que já conhecem e com quem convivem há vários anos

Na sala estarão convenientemente separados dos amigos, terão de desinfetar as mãos regularmente e se ensaiarem um sorriso maroto ou cúmplice para o amigo ou a amiga o efeito será nulo. A máscara estará sempre presente e pronta a evitar o mau e o bom. Apesar de tudo isso também terão de aprender, porque é para isso que ali estão.

Resta um consolo: não deixarão de ir à escola, o que apesar de tudo seria pior. Ainda assim, no momento em que voltarem a encontrar os amigos vão cumprimentar-se à cotovelada e com os pés.

Por necessidade, bem o sei, estamos a ensinar-lhes que brincar e conviver com pessoas é perigoso, mesmo com aquelas que já conhecem e com quem convivem há vários anos.

Fazer novos amigos é que nem pensar. Se não conheces, não te aproximas e por isso não vais confiar. Eles terão muito mais dificuldades em fazer novos amigos e eu estarei praticamente impossibilitado de os conhecer.

Os números voltaram a disparar em Portugal e na Europa. Este domingo em França os casos confirmados atingiram a barreira dos 10 mil.

Em Portugal parece inevitável que continuem a subir (o que já acontece desde meados de agosto) agora que as férias de miúdos e graúdos acabaram e que as escolas vão abrir aumentando e muito o número de deslocações.

Para além de tudo isso, hoje penso como vou explicar aos meus filhos que não é bom passarem horas com a cabeça enfiada num monitor. Afinal, em 2020, isso parece ser o mais seguro. Não é agora que vamos medir os efeitos sociais destas mudanças.

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