Escândalos de vacinas assombram campanha de vacinação contra gripe na China

por Guilherme Rego

Pessoas pertencentes aos grupos de alto risco são incentivadas a receber uma vacina contra a gripe para ajudar a aliviar a pressão sobre o sistema de saúde do país

Antes do início da temporada de gripe em outubro, Yi Jie, uma programadora de Internet com 32 anos, que vive em Pequim, está determinada a tomar uma vacina contra a gripe.

Yi nunca tomou uma vacina contra a gripe – embora a empresa para onde trabalha pague por isso -, mas este ano ligou para várias clínicas para marcar uma consulta. “Estou sempre muito ocupada. Mas este ano é diferente”, disse Yi ao South China Morning Post.

A corrida para a inoculação está em alta antes de um possível renascimento da pandemia do coronavírus no inverno, que pode sobrecarregar o sistema de saúde.

A China está a aumentar a produção das vacinas em antecipação a uma demanda doméstica muito maior, mas mesmo se todas as doses forem usadas, apenas uma pequena proporção de pessoas será vacinada, com muitos desencorajados pelo custo, falta de acesso e memórias recentes de escândalos farmacêuticos.

A ideia que é passada pelas autoridades é que o maior número possível de pessoas tome a vacina contra a gripe, especialmente grupos vulneráveis, como idosos e pessoas com doenças crónicas. Isso porque os vírus da gripe podem complicar o diagnóstico de Covid-19, exacerbar outras doenças e afundar os sistemas médicos que lutam para lidar com o coronavírus.

“A maneira mais eficaz de evitar [paralisar o sistema de saúde] é pedir às pessoas que se vacinem contra a gripe a tempo”, disse Wang Chen, presidente do Peking Union Medical College. “Devemos ampliar adequadamente o grupo de pessoas para a vacinação contra a gripe”.

A gripe sazonal é responsável por cerca de cinco milhões de casos de doenças graves e 290 mil a 650 mil mortes em todo o mundo a cada ano. Nos Estados Unidos da América, estima-se que a gripe cause cerca de 226 mil hospitalizações e entre 25 mil e 69 mil mortes, anualmente.

Na China, a gripe foi associada a uma média de 88.100 mortes respiratórias a cada ano entre 2010 e 2015, correspondendo a 8,2 por cento de todas as mortes respiratórias, de acordo com um artigo publicado no The Lancet em setembro passado.

Embora a China tenha capacidade para aumentar a oferta da vacina contra a gripe, a demanda pública permaneceu baixa por causa da falta de confiança, falta de conscientização pública, acesso deficiente e custo elevado para grande parte da população.

Na China, a maioria das pessoas precisa deslocar-se a um hospital e pagar cerca de 100 yuans por uma vacina contra a gripe. O país incentiva grupos de alto risco a receberem uma vacina, mas apenas um pequeno número de cidades, incluindo Pequim, Xangai e Shenzhen, oferece as vacinas gratuitamente para crianças e idosos. Embora cidades como Hangzhou e Ningbo, na província oriental de Zhejiang, cubram as despesas através de um seguro saúde obrigatório básico, as pessoas na maior parte da China têm de pagar.

Depois, notícias recentes dão conta de problemas com vacinas frabricadas pela Changchun Changsheng Bio-technology, que vendeu mais de 250 mil vacinas DPT na província de Shandong antes que os testes em novembro de 2017 revelassem que algumas não eram eficazes. As vacinas DPT criam imunidade contra difteria, tosse convulsa e tétano e são administradas a bebés de até três meses de idade na China.

A Changchun Changsheng foi multada em 3,4 milhões de yuans por um regulador provincial – uma pequena quantia para uma empresa que revelou 566 milhões de yuans em lucros líquidos em 2017. Também recebeu 48,3 milhões de yuans em novos subsídios do governo em 2017, de acordo com o seu relatório anual.

Como se não bastasse, também foi revelado em julho de 2018 que a Changchun Changsheng terá falsificado os dados de produção da sua vacina contra a raiva. Apesar de não ter havido qualquer evidência de algum dano provocado pela vacina, a polémica veio ainda mais aumentar a desconfiança.

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