O acervo do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, Prémio Pritzker 2006, foi incorporado na Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura, em Matosinhos, distrito do Porto. Uma decisão que não está a ser bem aceite no Brasil.
A escolha da instituição portuguesa foi do próprio arquiteto de 91 anos, vencedor do Pritzker em 2006, o principal prémio de arquitetura no mundo. “A relação do Paulo com a Casa já é longa. Ele poderia ter escolhido qualquer instituição do mundo”, diz o arquiteto Nuno Sampaio, diretor-executivo do museu.
Mendes da Rocha tem uma longa ligação com a instituição portuguesa, tendo recebido o título de sócio honorário da Casa da Arquitectura em 2018.
Dentro das caixas que chegaram a Portugal estão cerca de 8800 objetos, relativos a mais de 320 projetos, e “é composta por cerca de 6300 desenhos analógicos, 1300 desenhos físicos, três mil fotografias e ‘slides’, um conjunto de maquetes feitas pelo próprio” Mendes da Rocha e aproximadamente 300 publicações, segundo o comunicado da instituição.
Segundo o responsável pela instituição portuguesa, o acervo já foi catalogado e agora será guardado. Depois, será disponibilizado de forma gratuita para investigadores e arquitetos que o desejem consultar e servirá de matéria-prima para exposições sobre a obra de Mendes da Rocha.
Embora tenha sido uma decisão do próprio arquiteto, a saída do acervo do Brasil gerou polémica entre arquitetos brasileiros e críticas de profissionais e instituições.
Em nota, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo disse lamentar a decisão de Mendes da Rocha e que “com grande pesar tomou ciência da concretização da doação do acervo”.
“Apesar de inúmeras tratativas e propostas de recebimento do seu acervo, a decisão soberana do arquiteto foi diversa da nossa expectativa. O acervo de Paulo Mendes da Rocha teria para nós um duplo significado. Por um lado, a importância do material, nos seus próprios termos, e seu vínculo com a história desta instituição pública de ensino. Por outro integraria o maior acervo público de arquitetura, urbanismo e design”, diz o texto.
Vários arquitetos também se pronunciaram publicamente sobre o assunto. “A despeito de seus méritos, [a Casa da Arquitectura] não é uma instituição de ensino e pesquisa, nem muito menos pública, mas um centro privado de guarda de acervos e exposições de arquitetura. E pior, fora do Brasil. É desanimador saber disso. E num momento de erosão cultural do país”, escreveu o arquiteto e professor José Lira nas redes sociais.
“É um momento triste para a cultura arquitetônica brasileira, em especial para todos aqueles que lutam pela preservação de acervos arquitetônicos”, escreveu o também arquiteto e professor Renato Anelli. “Não discuto a qualidade e importância da Casa da Arquitectura. Questiono a desnacionalização de um acervo dessa importância. O Brasil fica mais pobre.”