Emmanuel Macron finalmente falou sobre a repressão chinesa à minoria muçulmana dos uigures, antes da cimeira sino-europeia na segunda-feira
O Chefe de Estado da França demorou muito para designar corretamente o mal. Interpelado por trinta deputados franceses em julho sobre a repressão sistemática das autoridades chineses contra a minoria étnica dos uigures, Emmanuel Macron manteve-se em silêncio mas acabou por responder a 6 de setembro ao autor de uma carta sobre o tema, o deputado Aurélien Taché. O Presidente francês mencionou na resposta os testemunhos e documentos sobre “os campos de internamento, detenções em massa, desaparecimentos, trabalhos forçados, esterilizações forçadas, destruição da herança uigur e em particular dos seus locais de culto, vigilância da população e mais geralmente todo o sistema repressivo estabelecido na região de Xinjiang”, escreve hoje o jornal Le Monde. Práticas que Macron considerou “inaceitáveis” e que a França condena “com a maior firmeza”.
“Este é um passo na direção certa, observa o deputado Aurélien Taché ao Le Monde. “Mas, para além da diplomacia, estamos num ponto onde há matéria para exigir justiça internacional”. Por sua vez, o eurodeputado Raphaël Glucksmann, muito empenhado na defesa dos uigures, acolhe com agrado esta “reorientação semântica, após uma silêncio vergonhoso por três anos” por parte do Presidente francês. Mas gostaria que a França fosse ainda mais além. “No Parlamento Europeu temos travado uma luta de longa data por sanções específicas contra os responsáveis pela repressão em Xinjiang. Mas nada acontece no Conselho Europeu. Existe um Consenso franco-alemão para não ofender os líderes chineses”, critica, em declarações ao jornal francês.
O contraste entre a atitude muito firme, até marcial, de Paris contra a Turquia e a sua atitude calculista em relação à China parecem impressionantes. Pequim – o seu mercado gigante, o seu poder, o seu papel na questões internacionais, reforçadas pelo unilateralismo dos EUA – é um parceiro essencial, nota o Le Monde.
A França parece devolver a responsabilidade pelo diálogo com a China a Bruxelas. Consequência: o Presidente francês junta-se ao coro de endurecimento verbal partilhado na Europa na defesa dos uigures, ao longo de vários meses e sob a pressão da opinião pública internacional.
A recente viagem do chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi a Bruxelas ilustrou a vontade dos Estados membros de defenderem mais claramente, face a Pequim, os seus interesses e princípios, mas sem seguir a linha de confronto total como faz a administração Trump.
Um desenvolvimento que estará no centro da cimeira sino-europeia que será realizada online e agendada para segunda-feira, 14 de setembro. Participarão na cimeira Charles Michel, o Presidente do Conselho Europeu; a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; a chanceler alemã Angela Merkel, cujo país detém a presidência da União Europeia, e o Presidente chinês Xi Jinping.