A língua chinesa nunca foi – nem será – verdadeiramente global. Por um lado, é praticamente impossível massificá-la, sendo precisos mais de dez mil caracteres para ler os jornais ou frequentar cursos universitários; por outro, nunca antes Pequim experimentou a influência planetária que hoje exerce. Por isso Trump anda desvairado, como um gato que descobriu que há cães no mundo. Agora ataca o Instituto Confúcio, cujo ensino pretende banir dos Estados Unidos.
Nem o mandarim nem o cantonês ameaçam, de facto, a globalização feita em inglês. Contudo, e apesar de ser esdrúxula e hieroglífica, para o comum dos ocidentais, a língua chinesa é hoje uma realidade política, cultural e económica incontornável, abanando o ego republicano, em Washington, para lá da decência.
Todos os povos e em todas as línguas – a começar pelos americanos – hoje se perguntam: Qual é, afinal, a superioridade moral norte-americana? Se rasga as vestes da tolerância democrática; se o regime humanista se eclipsa, o extinto farol da liberdade transforma-se num colete de forças que ninguém quer vestir. A não ser que seja preciso enviar tropas e pagá-las. Aí já a Europa volta a engolir a vergonha e chama o Tio Sam.
Imagine-se a China a fechar o ensino de línguas e literaturas estrangeiras – inglesa, portuguesa, e tantas outras… Quantos nomes feios seriam atirados a Xi Jinping, com aquele sorriso idiota e a arrogância com que se mata a sua própria essência republicana, fazendo de conta que a defendem. Não há razoabilidade possível na censura à aprendizagem de uma língua, no corte das pontes para outros povos e culturas. Muito menos invocando o falso nome da liberdade.
A China não é perfeita; nunca foi; nunca será. Aliás, tratando-se de uma ditadura, é muito extenso o rol de críticas que lhe cabem – e são merecidas. Agora… cegueira nada no berço da democracia? Mordaça na boca das estrelas da democracia? Por favor, menos!