Quando o então pré-candidato à Presidência do Brasil Jair Bolsonaro procurou a representação de Taiwan no Brasil, em 2018, com vista a visitar a ilha e conhecer o seu modelo de educação, que costuma aparecer quase sempre no topo dos rankings internacionais, foi prontamente atendido pelo diplomata Tsung-Che Chang.
Dois anos depois, o agora representante do Escritório Económico e Cultural de Taipei no Brasil, interlocutor do governo de Taiwan, afirma que, ao contrário do esperado, já não vê vontade do governo Bolsonaro em manter relações com a ilha. Na avaliação de Chang, um dos principais empecilhos para essa aproximação é a força geopolítica e comercial da China.
“Há muitas barreiras, há muito constrangimento que vem da China. A realidade no Brasil é que o governo pensa mais na China do que em Taiwan. Não sentimos muita vontade do governo brasileiro em conversar com Taiwan”, afirmou Chang, em entrevista ao portal UOL.
Taiwan é considerada pela China como parte de seu território, mas tem líderes eleitos democraticamente e economia própria, vivendo em torno de discussões permanentes sobre uma possível independência. A ilha tem cerca de 23,7 milhões de habitantes e resiste ao sistema comunista chinês desde 1949, altura em que o então Presidente da República da China, Chiang Kai-shek, fugiu para a Formosa depois de perdida a guerra civil contra Mao Tsé-Tung.
O Brasil mantém relações diplomáticas com a China sem considerar Taiwan uma nação independente. O país asiático defende o princípio “Uma só China”, ou seja, a unificação de territórios hoje tidos como rebeldes.
Contudo, o Brasil conta com um escritório comercial em Taipé, capital de Taiwan. O mesmo acontece com o governo taiwanês em território brasileiro. No entanto, a delegação estrangeira não é recebida no Itamaraty — reuniões com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também não acontecem. “Parece um tabu”, diz Chang que afirma não querer causar atritos para a diplomacia brasileira, mas explorar mais possibilidades com Taiwan.