Aliados improváveis no combate aos caminhos de ferro na Amazónia

por Guilherme Rego
Guilherme Rego

Com penas sobre a cabeça e tinta no corpo, o chefe índio Beppronti Mekragnotire não aparenta ter nada em comum com Sergio Sorresino, mas têm uma característica comum: nenhum deles quer uma linha férrea que atravesse a floresta tropical da Amazónia.

Além disso, a 17 de agosto, estiveram em lados opostos num bloqueio de estrada nos arredores de Novo Progresso, no norte do Brasil, provocado pelo índios Kayapo, fazendo com que milhares de camiões, incluindo o de Sorresino, ficassem presos na auto-estrada BR-163, que liga as terras agrícolas do centro ocidental com os rios e portos da Amazónia.

O bloqueio surge no seguimento dos planos governamentais de construir uma linha férrea de 2.043 Km quadrados que atravesse a Amazónia – a Ferrograo -, em Mato Grosso.

Sorresino, apesar de ter sido impedido de trabalhar pela situação, agora suspendida por decisão do tribunal, não parece estar chateado com a situação. Até parece apoiar a causa. “É o direito deles. A Ferrograo também nos vai prejudicar”, disse o camionista de 48 anos, que tem transportado milho e soja por todo o país.

Com uma linha férrea a ser construída, vários camionistas perderão o emprego, dado que a sua utilidade perde valor no que toca ao transporte de produtos pela Amazónia.

Desflorestação:

As razões dos Kayapo contra esta construção são mais do que óbvias,. A desflorestação da maior floresta do mundo é constante e parece não ter fim. Os índios testemunham em primeira mão a destruição da Amazónia por minas, agricultores, produtores de gado, entre outros, acesso a zonas da floresta que antes eram isoladas e com pouca influência humana.

Mekragnotire aponta para a auto-estrada que bloqueia, construída em 1970 pelo governo militar da altura como um exemplo.

“Vejam só a desflorestação que tem vindo a acontecer desde que contruiram esta auto-estrada, imaginem quando constuirem a linha férrea”, disse à AFP.

“Estão a ver aquele fumo?” perguntou, apontando para uma espessa núvem de fumo na floresta, que foi incendiada por agricultores e criadores de gado, que procuram limpar a terra para uso próprio.

A prática é comum no Brasil, o maior produtor de soja e o segundo maior de carne de vaca no mundo. Mas a devastação que ocorre destas produções torna impossível a preservação de uma zona verde importantíssima para combater o aquecimento global.

Desflorestação na Amazónia

Positivo para o ambiente?

Com quase mil quilómetros de comprimento, os caminhos de ferro vão maioritariamente seguir o trilho ocupado pela auto-estrada existente. Os planeadores defendem que não vai atravessar terras indígenas e que só vai desviar pelo Parque Nacional Jamanxim, que já foi aprovado em Congresso.

O projeto de 1.5 mil milhões é apoiado por multinacionais como a Cargill e Bunge, que dizem que a exportação do seu produto por estrada é muito lento e demasiado caro, retirando a competitividade que o Brasil quer ter no mercado mundial.

O governo quer iniciar a construção já em 2021e tem na mira 2030 para a sua conclusão.

“É muito viável. Vai reduzir os custos de transporte em 30/35% e a duração do mesmo passa para metade”, disse Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró Logística de Mato Grosso e lobista do projeto.

Argumenta ainda que, longe de danificar o ambiente, até ia ajudar a protegê-lo, dado que o “ganho ambiental seria enorme”, diz. “O comboio transportaria 12.000 toneladas…, em vez de 300 semi-camiões que precisamos de momento”, explica à AFP.

Os ativistas pró ambiente não parecem convencidos dado o impacto inicial no ambiente, que está de mãos dadas com esta iniciativa.

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