Filme de Ai Weiwei mostra como a China controlou lágrimas na pandemia

por Gonçalo Lopes
Ian Johnson

Documentário de Ai Weiwei retrata o país asiático como um lugar cada vez mais nervoso e fragilizado

Em janeiro deste ano a cidade chinesa de Wuhan tornou-se a primeira do mundo a entrar em lockdown para combater a pandemia de coronavírus. Esse período crucial continua sob muitos aspectos um mistério. Poucas imagens escaparam do controle dos censores.

Um novo filme do artista e ativista chinês Ai Weiwei veio ajudar a preencher um pouco dessa história ausente. Apesar de agora estar vivendo na Europa, Weiwei, trabalhando remotamente, dirigiu dezenas de voluntários na China para criar “Coronation”, um retrato do lockdown draconiano imposto a Wuhan —de um país capaz de mobilizar recursos enormes, sob um custo humano muito alto.

“O público precisa entender que este filme é sobre a China”, disse Weiwei em entrevista telefônica. “Sim, é sobre o lockdown do coronavírus, mas é um esforço para refletir o que chineses comuns vivenciaram.”

Apesar de seus erros iniciais, a China conseguiu controlar a pandemia melhor do que muitos outros países, tendo tido 4.700 mortes, em comparação com mais de 177 mil nos Estados Unidos. O Partido Comunista fez tudo que pode para reprimir manifestações de tristeza ou revolta, mas seus esforços ainda contam com amplo apoio público.

O filme reflete essa história mais ampla, com vinhetas que acompanham os fatos em ordem cronológica. Começa em 23 de janeiro, com um casal dirigindo numa noite de neve, voltando para casa em um subúrbio de Wuhan, e termina em 8 de abril, com cenas de pessoas queimando cédulas de dinheiro (uma oferenda tradicional aos mortos) numa esquina.

O que vemos entre esse começo e esse fim são cenas e histórias notáveis por nos proporcionarem um acesso raro ao aparato do Estado chinês.

Há imagens de um hospital sendo construído em questão de dias e um vislumbre interior de uma UTI, além de cenas de profissionais da saúde sendo premiados com uma filiação ao Partido Comunista e funcionários de um crematório amassando sacos de cinzas humanas para fazê-los caberem dentro de urnas.

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