O Mundo precisa de “limpar” o prato…

por Filipa Rodrigues
Solange Safrão

Em 2015, a comunidade global adotou os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável para melhorar a vida das populações até 2030. O segundo objetivo– Fome Zero – promete acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover uma agricultura sustentável.

Cerca de um terço dos alimentos que produzimos todos os anos é perdido ou desperdiçado, custando à economia global quase um bilião de dólares norte-americanos por ano. Nos países desenvolvidos, os alimentos são muitas vezes desperdiçados no prato, enquanto nos países em desenvolvimento se perde durante a produção, uma vez que as culturas não são usadas ou processadas devido ao mau armazenamento ou porque os agricultores não conseguem colocar os bens no mercado.

O PLATAFORMA de Sabores conversou com três profissionais na área de restauração em Macau sobre o desperdício alimentar na cidade, que integra a rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia. Genericamente, os profissionais consideraram o desperdício alimentar “um problema grave e mundial” e que a sociedade precisa de ser “educada desde cedo a valorizar e não desperdiçar comida”. Concordaram também que devem aplicar-se medidas mais concretas para resolver este problema.  

“A preocupação generalizada das sociedades modernas em relação ao desperdício alimentar é bem fundamentada, dado que ao conhecimento e informação ã que estamos expostos face às mudanças, não só climáticas, mas também sociais e económicas, são necessárias ações que viabilizem um futuro sustentável”, disse o chef do restaurante português GOSTO, André Lai. 

Para o chef Lai,a competitividade na indústria de restauração “anula o conceito de educar e sensibilizar individualmente o cidadão, para que a oferta excessiva não se transforme em consumo excessivo. Todos devem dar o seu contributo”.  

“A mudança começa desde a educação nas entidades de educação e formação, passando por apoios à indústria de produção alimentar local que incentivem a indústria de restauração a procurar competitividade pela qualidade e com o objectivo final de direcionar o consumidor à consciêncialização da sustentabilidade”, defendeu. 

O chef do Galaxy resorts, Fausto Airoldi, coincidiu genericamente com a argumentação de André Lai. 

“Acredito que a alimentação, a gastronomia, a gestão e redução de resíduos devem fazer parte do ensino primário e secundário, para que, desde a infância, as pessoas respeitem a alimentação e a proteína animal”, apontou.

Apesar de não ver “uma solução concreta” para o problema, o chef Airoldi notou que na restauração, assim como hotéis e resorts de negócios, está-se a “abordar a questão de muitas formas, quer através da implementação de sistemas de registo de resíduos, para que haja um objetivo diário, quer através da compra de uma certificação mais sazonal e mais sustentável”. 

Revelou também que em Macau, cidade de gastronomia, a UNESCO foca-se na sustentabilidade e autenticidade da comida, e isso tem contribuído para o setor da restauração estar mais sensibilizado. 

No final da refeição, a tradição chinesa exige que se deixe comida no prato, simbolizando assim que se comeu o suficiente. O chef Airoldi reconheceu que essa cultura prevalece em Macau, mas há cada vez mais pessoas a levar os restos de comida para casa, uma prática que classificou como “boa e que pode ajudar a minimizar o desperdício”. 

Já o diretor de alimentos e bebidas do Hotel Sofitel, Falko Flamme, considerou que o desperdício alimentar é um grande desafio em Macau e que pode ser resolvido com “mudanças radicais e algumas leis”.  

“A gestão dos resíduos em geral em Macau não é muito eficaz. Os resíduos não são separados e são depois enviados para a China para processamento. Assim, para que Macau combata o desperdício alimentar, penso que tem de fazer a gestão de resíduos mais eficiente”, indicou.

Disse ainda acreditar que restaurantes e hotéis locais podem ajudar a diminuir o desperdício se servirem “porções reduzidas nos buffets”. 

Tal como o chef Airoldi, adiantou desconhecer uma solução concreta para o problema, mas disse que tem observado “progressos na indústria de restauração”. 

“Muitos hotéis, inclusive em Bangkok, onde trabalhei, usam o Winnow. O Winnow é um programa que ajuda as cozinhas dos hotéis a desperdiçarem menos comida através da tecnologia”, lembrou.

A pandemia do covid-19, assim como outros desastres naturais, têm afetado o fornecimento de alimentosa nível global. A população mundial supera os 7 mil milhões e já antes da situação atípica de 2020 havia escassez de comida em algumas regiões. De acordo com o Programa Alimentar Mundial, 690 milhões de pessoas vão dormir sem comer e uma em cada três dessas pessoas sofre de malnutrição. 

O Presidente Chinês Xi Jinping, numa declaração recente, considerou o desperdício de alimentos no país “chocante e preocupante” e os banquetes sumptuosos, com vários pratos, foram banidos. A nova campanha contra o desperdício de alimentos no país designa-se “limpe o seu prato”. 

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