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É cada vez mais forte a tese segundo a qual a “guerra comercial” – ou melhor, tecnológica e geoestratégica – entre a China e os Estados Unidos serve apenas uma agenda de circunstância, dominada pelo liberalismo radical de Trump, que arde sem se ver, só de pensar que o capitalismo comunista chinês vai liderar a economia mundial. As diplomacias lusófonas, bem como a Europa, protegem os seus laços orientais, num compasso de espera resiliente que permita um dia unir as pontas entre duas potências que arriscam uma Guerra Fria que não serve o interesse geral e planetário.
Mais pragmático, Xi Jinping volta a lançar reptos a negociações para que Washington e Pequim se entendam em sectores-chave como regulação financeira, abertura económica (biunívoca) ou o mapa dos blocos de influência ideológica… Mas há um elefante na sala; ou um gato escondido com o rabo de fora: a computação quântica e a inteligência artificial assustam o ocidente, porque prenunciam a liderança chinesa. Temos publicado neste jornal sinais claros do futuro pós-covid, na Grande Baía, onde polos tecnológicos como o de Shenzhen aceleram sectores como a indústria médica, inteligência artificial ou a economia azul; à escala global.
Não se entende o futuro sem estes movimentos. Antevendo-os, Trump reage com fel e músculo, tentando atrasar a realidade e recuperar o domínio do tempo. Mas vai tarde. A única solução é agora política e negocial; na senda do pragmatismo do Tratado de Tordesilhas, que noutra era, pacificou a tensão ibérica. As duas grandes potências têm de coexistir, com as suas capacidades, manias e fantasmas. Este é tempo em que a gestão do espaço precisa de pontes.