Covid-19 encolheu comunidade islâmica de Macau

por Filipa Rodrigues
Gonçalo Lobo Pinheiro

A pandemia que assola o mundo reduziu o número de muçulmanos que residem em Macau e afetou o período do Ramadão, quando o Governo ordenou o encerramento dos espaços religiosos de Macau durante um mês

O PLATAFORMA foi convidado a aparecer, numa sexta-feira, na Mesquita e Cemitério da Associação Islâmica de Macau, ao Ramal dos Mouros, para assistir à Salat que, por ser a segunda oração do dia, ao meio-dia, depois de o sol ter atingir o ponto máximo, se denomina como Dhur.

Os muçulmanos rezam cinco vezes ao dia, ou seja, realizam cinco Salat (Fajr, ao alvorecer; Dhur, ao meio-dia, depois de o sol ter atingir o ponto máximo; Asr, entre o meio-dia e o pôr do sol; Maghrib, logo após o pôr do sol; Isha, de noite, pelo menos uma hora e meia após o pôr do sol e antes da hora de fajr, não podendo ser depois da meia-noite).

Compreensivelmente, não se pôde entrar na mesquita durante a oração (Dhur), e as restrições para fotografar foram muitas. Ainda assim, conseguimos ter uma perceção do que é um dos momentos mais altos do dia para os muçulmanos. De pé, curvados ou de joelhos, os crentes recitam um conjunto de versículos do Alcorão e a reza foi feita em árabe, inglês e chinês.

Dados recentes, compilados antes da pandemia do novo coronavírus que assola o mundo, apontaram para a existência de cerca de 11 mil muçulmanos em Macau, mas depois de Fevereiro esse número deve ser diminuído. 

“Muitos saíram por causa do coronavírus e voltaram aos seus países. Neste momento, não sabemos o número real de muçulmanos no território. Talvez uns 6.000”, avançou ao PLATAFORMA o imã Ding Shao Jie, em conversa depois de terminada a oração.

O imã de Macau – onde reside há dois anos – é natural de Pequim, mas viveu muitos anos em países árabes. “A China tem cerca de 50 milhões de mulçulmanos, mas a minha educação religiosa fez-se maioritariamente no Paquistão e na Arábia Saudita.”

À espera do Governo

Pela primeira vez a mesquita de Macau encerrou por completo ao público, durante um mês, e numa altura muito especial para os muçulmanos: o Ramadão. Ding Shao Jie explicou que a exceção foi compreensível e surgiu numa altura em que todo o mundo se debate com um problema sanitário grave e sem fim à vista. “Totalmente compreensível que o Governo tenha ordenado o fecho dos espaços religiosos por um mês. Precisamos todos de ter a noção do que é a Covid-19 e o que ela pode provocar”, afirmou.

Por falar do Governo de Macau. O complexo da mesquita de Macau está degradado. Há anos que a Associação Islâmica de Macau aguarda que o Executivo dê carta-branca para o plano de renovação apresentado pela entidade para aquele espaço. “Temos planos para construir uma nova mesquita há dez anos. Mas [o Governo] teima em não dar resposta à nossa pretensão. Até ao final deste ano pode ser que haja novidades por parte da equipa liderada por Ho Iat Seng”, revelou o imã.

Extremismos

Com presença em Macau há cerca de 400 anos, os islâmicos são uma comunidade totalmente integrada no dia-a-dia da cidade. “Não sinto que sejamos ostracizados, mas confesso que nem sempre é fácil, pois, infelizmente e injustamente, o islão está sempre a ser associado ao terrorismo”, desabafou.

Para o imã de Macau, movimentos extremistas como o Estado Islâmico ou a Al Qaeda, não deveriam existir. “Não representam o islão. De todo. Aliás, são pessoas que não sabem o que é ter fé. Os muçulmanos querem paz, mas estão sempre ligados a questões de conflito. É muito revoltante”, disse. Questionado, escusou-se a comentar a situação da comunidade islâmica no continente.

A relação entre as diversas religiões do território é, de acordo com o imã de Macau, saudável. “De vez em quando, não tanto como desejaria, conversamos e trocamos opiniões e até livros. Sou muito interessado por questões de religião em geral e gosto de ler livros e ouvir histórias sobre as outras religiões”, confessou Ding Shao Jie.

Sem revelar a identidade, o imã adiantou que a comunidade islâmica de Macau tem um representante nacional português.

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