Depois de meses sem contato e num momento de agravamento das relações bilaterais, os negociadores da China e dos Estados Unidos decidiram nesta terça-feira (25) aplicar o acordo comercial, último terreno de entendimento entre as duas potências.
Desde que Pequim e Washington assinaram em 15 de janeiro um acordo de “fase um” que suspendia dois anos de guerra comercial, vários temas provocaram embates entre as potências: da origem do coronavírus a questões de espionagem, passando por Hong Kong, direitos humanos, a rivalidade tecnológica ou o encerramento de consulados.
Menos de 10 dias depois da assinatura do acordo, a epidemia de COVID-19 explodiu, seguida pela maior crise económica mundial desde a Segunda Guerra Mundial. Os compromissos assumidos pela China de comprar mais produtos americanos pareceram em risco.
Mas o acordo persiste, a julgar pelos comunicados publicados pelos dois governos nas últimas horas.
“As duas partes constatam o progresso e estão determinadas a tomar as medidas necessárias para garantir o êxito do acordo”, anunciou o representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer, após conversa com o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He.
O USTR informou que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, também participou da reunião por telefone.
O Ministério do Comércio da China citou um “diálogo construtivo sobre o fortalecimento da coordenação das políticas macroeconómicas dos dois países”.
“Ambas as partes estiveram de acordo em criar as condições e a atmosfera que permitam continuar a avançar na implementação da primeira fase do acordo económico e comercial sino-americano”, disse o órgão chinês em comunicado.
Há alguns dias, Washington e Pequim adiaram as negociações destinadas à abordagem deste tratado num contexto de aumento das tensões bilaterais, segundo destacou a imprensa dos dois países.
Dois anos em guerra
Após quase dois anos de guerra comercial, os países assinaram em janeiro um acordo em que a China se comprometia a comprar 200 bilhões de dólares adicionais em bens e serviços americanos.
As compras prometidas, porém, não foram concluídas, em particular devido à pandemia da COVID-19, que paralisou o comércio internacional.
Até o final de junho, foram concretizadas menos de metade (46%) das compras esperadas, de acordo com dados compilados pelo Instituto Peterson de Economia Internacional (PIIE).
As relações entre os dois países deterioraram-se em função do debate em torno da origem do vírus, da situação em Hong Kong e da rede social TikTok, acusada por Donald Trump de espiar os Estados Unidos para o governo de Pequim.
Contudo, na última quinta-feira, as duas potências decidiram retomar o diálogo, anunciou o Ministério do Comércio chinês.
O Representante do Comércio dos Estados Unidos afirmou que as duas partes “conversaram sobre os passos que a China tomou para efetuar as mudanças estruturais” necessárias para o acordo para garantir uma maior proteção dos direitos humanos e da propriedade intelectual.
“As partes também negociaram o aumento significativo das compras de produtos americanos pela China, assim como as ações futuras necessárias para implementar o acordo”, concluiu a administração Trump.
O acordo foi uma promessa feita por Trump, candidato à reeleição em novembro, aos agricultores americanos que sofreram com a guerra comercial.