A busca pelo túmulo da última imperatriz chinesa

por Filipa Rodrigues
Zong Wei, Si Xiaoshuai e Shao Meiqi

Desde a sua morte que a localização do túmulo de Wanrong, última imperatriz da China, continua a ser um mistério. 

Recentemente, Yu Bo, um residente de 51 anos da cidade de Yanji, província de Jilin, afirma lembrar-se de, ainda criança, o pai contar que a imperatriz depois de adoecer e morrer, ter sido sepultada no monte Nanshan, perto da montanha Mou ’er. 

Registos mostram que a imperatriz, cujo nome completo era Gobulo Wanrong, nasceu em 1906 em Pequim e assumiu o trono em 1922. Em junho de 1946, uma doença retirou-lhe a vida em Yanji e ali ficou sepultada. 

Este ano, outro residente de Yanji, Yang Zhipeng, de 63 anos, recorda que em 1972, então com 15 anos e morador na zona dos montes a sul de Yanji, ter encontrado numa colina, no meio de uma brincadeira com amigos, uma inscrição que dizia “Túmulo de Wanrong”. “Lembro-me claramente que era um dia de neve, a lápide era de madeira, com as palavras escritas a preto”, assinala Yang Zhipeng. O local apontado por Zhipeng fica relativamente perto do local apontado pelo pai de Yu Bo. 

Na colina indicada por ambos podem ver-se e ouvir-se, entre pinheiros, ervas daninhas e pequenas margaridas, grilos e cigarras. É um local privilegiado para se ter uma vista de toda a cidade de Yanji. E as colinas são, tradicionalmente, locais onde se podem encontrar túmulos.

Ao longo dos últimos anos têm surgido diferentes teorias sobre a localização do túmulo de Wanrong. Nas cidades de Changhun e Dunhua, em Jilin, podem encontrar-se dois cenotáfios (monumentos erigidos em memória de um morto ) para Wanrong. 

Li Shuwu, atual vice-presidente executivo da Escola Central do Partido Comunista chinês em Yanji, e que anteriormente trabalhou no departamento de propaganda política da cidade e como presidente da Federação de Literatura do Município de Yanji, tem, ao longo dos últimos anos, promovido investigações sobre a localização do túmulo de Wanrong. 

“Segundo os registos disponíveis, podemos facilmente determinar que Wanrong morreu de doença em Yanji. O local exato onde foi enterrada continua a ser um mistério, porém o consenso geral é de que está na zona dos montes do sul”, diz. 

Nos últimos anos, o Governo da cidade de Yanji também tem organizado ações de busca pelo túmulo. Cui Wen, diretor do Instituto de Administração de Relíquias Culturais de Yanji, assegura que já foram organizadas diferentes atividades arqueológicas na região. Todavia, considerando o contexto do ano em que morreu, os restos mortais não devem ter sido enterrados num local muito profundo e, devido a décadas de erosão do solo, admite-se que o túmulo original provavelmente já tenha desaparecido. 

Num seminário em que participou, Li Shuwu descobriu que uma sobrinha de Wanrong vivia em Pequim. Viajou então até à capital para se encontrar como Gobulo Xiaoying e visitar o local de nascimento de Wanrong. O objetivo foi ficar a conhecer um pouco mais sobre a história de vida da imperatriz. 

A familiar da antiga imperatriz, diz, lembrou que o túmulo de Wanrong foi construído ao lado do de Puyi, junto aos Túmulos da Dinastia Qing Ocidental, em Yixian, Hebei, em 2006, mas ali encontra-se apenas uma fotografia da imperatriz. “É uma grande pena para mim ainda não ter conseguido encontrar o túmulo da minha tia”, considera Gobulo Xiaoying.

Tal como afirma Yu Bo e outros interessados em saber mais sobre a vida da última imperatriz, Wanrong nasceu no hutong Mao’er, morreu na montanha Mou’er e foi enterrada em Yanji. No entanto, muitos dos residentes locais, especialmente os mais novos, não têm conhecimento dessa informação. 

“O meu pai disse-me uma última vez antes de morrer que isto faz parte da história de Yanji, e por isso deve ser preservada pelos locais”, assinala Yu Bo.

Felizmente, ao longo dos últimos anos, além de várias iniciativas organizadas por departamentos governamentais, também tem crescido o número de civis que querem proteger esta história da mesma forma que Yu Bo e Yang Zhipeng. 

Recentemente, Cui Song, presidente da Associação de Escritores e Artistas Populares de Yanji, tem estado a finalizar um documento em que sugere ao Governo a construção no local de um centro de exposições sobre a vida de Wanrong. O próprio tem reunido diferentes materiais e dados relacionados com a história de Wanrong, expressando que, quanto mais sabe sobre a vida da imperatriz, mais sente que precisa de explorar e preservar o respetivo legado. 

“É difícil definir exatamente o local onde Wanrong foi sepultada, mas este trabalho de investigação, só por si, já tem valor”, afirma. Adianta que a crescente participação na procura de uma resposta demonstra que a população respeita a sua história.

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