África Ocidental teme efeito contágio do golpe no Mali. Quem é o próximo a cair?

por Rute Coelho

Nos países vizinhos, como a Costa do Marfim ou o Senegal, o golpe de Estado no Mali soa como uma ameaça e um aviso aos Chefes de Estado que se agarram ao poder

Poucas horas depois de os militares golpistas terem prendido o Presidente do Mali Ibrahim Boubacar Keita, na terça-feira,  os países vizinhos deste Estado ocidental africano fecharam as suas fronteiras comuns. O golpe de Estado que derrubou o Presidente no poder desde 2013 é tema de discussão em toda a África Ocidental, noticia hoje o Le Monde Afrique. Os países vizinhos receiam o efeito contágio do golpe de Estado no Mali.

Na Costa do Marfim, por exemplo, que voltou a ter uma vaga de violência depois do anúncio da candidatura do atual Chefe de Estado às presidenciais de 31 de outubro, os acontecimentos no Mali são vistos como um alerta. “Eu espero que Alassane Ouattara (o Presidente em funções) veja bem o que se está a passar, porque o golpe do Mali é um aperitivo, comentou ao jornal francês a opositora Nathalie Yamb, opositora feroz do Presidente, expulsa do território nacional em 2019.

O artigo recorda que em 2002 uma tentativa de golpe de Estado na Costa do Marfim incendiou o país, levando-o a uma profunda crise política e militar. Mais recentemente, em 2017, um quarto motim em três anos fez com que o governo da Costa do Marfim se curvasse, forçado a ceder às exigências dos amotinados. Desde então, Alassane Ouattara tem trabalhado as suas relações com o Exército, ciente da ameaça que este pode representar, e mantém no exílio o opositor que acusa de querer instigar um golpe, Guillaume Soro, ex-líder da rebelião e candidato às eleições presidenciais.


Segundo o Le Monde Afrique, também no vizinho Senegal a crise do Mali preocupa e aparece na primeira página de todos os jornais diários de quarta-feira. “Cuidado com a contaminação! “, avisou La Tribune, que designa ironicamente como “bombeiros de serviço” o Presidente senegalês, Macky Sall, e os seus três homólogos da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) envolvidos na mediação entre os golpistas do Mali e o poder em Bamako.

Para além do medo dos efeitos secundários na região, o golpe do Mali é também “um aviso para os titulares de um terceiro mandato”, escreveu o diário senegalês L’Evidence, referindo-se à vontade dos Presidentes da Costa do Marfim e da Guiné de se candidatarem a um terceiro mandato. Uma mensagem que também visa Macky Sall, suspeito de querer concorrer pela terceira vez às eleições presidenciais do Senegal de 2024.

Uma videoconferência dos líderes da CEDEAO sobre “a situação no Mali” está agendada para esta quinta-feira, sob a égide do Presidente Nigeriano Mahamadou Issoufou, que atualmente detém a presidência rotativa da organização. Este último condenou veementemente a queda de Ibrahim Boubacar Keita na noite de terça-feira.

Mas para o ativista de direitos humanos Alioune Tine, esta crise destaca acima de tudo “a impotência dos mecanismos regionais e internacionais de resolução de crises”: “As razões subjacentes para a crise do Mali podem ser encontradas em outras partes da África Ocidental. Estamos dentro de um vulcão. Depois do Mali, quem é o próximo? “

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