Hipotecar o futuro ou lavar as mãos?

por Arsenio Reis
Arsénio Reis

Estamos a um mês da reabertura das escolas em Portugal e ainda são muitas as dúvidas sobre o próximo ano letivo. Em anos “normais”, pais, professores e alunos já vivem com grande nervosismo o anúncio de novas rotinas. Ora este, que é o ano da “desgraça da nova pandemia”, será ainda mais complicado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a UNICEF revelaram esta semana que 43% das escolas em todo o mundo não têm acesso a condições de higiene básicas como água e sabão para lavar as mãos.

Isto significa que praticamente duas em cada cinco escolas não estão preparadas para garantir os mínimos no combate à Covid-19. Não podem sequer cumprir as medidas essenciais para permitir a reabertura das escolas num contexto de pandemia.

Esta fragilidade é particularmente sentida em África, onde vive um terço das crianças que devia passar os dias a aprender, mas não tem um sítio com condições de higiene onde o possa fazer. Só nesse continente são 295 milhões de crianças que frequentam escolas que não têm armas para combater a doença.

O não regresso às aulas significaria que estamos a hipotecar o futuro com consequências muito negativas no médio e longo prazo. Espero que os governos do mundo não lavem daí as mãos…

Os números – e as estatísticas – são quase sempre frios e “calculistas”, mas neste caso também assustam e envergonham. No mundo inteiro, segundo a OMS e a UNICEF, há 818 milhões de crianças que correm riscos acrescidos de contrair Covid-19 e outras doenças transmissíveis.

Nos países menos desenvolvidos sete em cada dez escolas não têm condições básicas de higiene das mãos. Para além disso em metade das escolas faltam condições de saneamento e de acesso à água.

Recentemente ouvi Marçal Grilo, um antigo ministro da educação e homem que nos habituamos a respeitar sempre que fala de ensino, a explicar que é tão importante o regresso às aulas de milhares de estudantes em Portugal, como o funcionamento dos hospitais, das empresas – nomeadamente do ramo alimentar – ou das cadeias de abastecimento de alimentos, combustível e outras condições que nos permitem viver dentro de uma certa “anormalidade confortável”

Marçal Grilo sublinhava uma ideia: o não regresso às aulas significaria que estamos a hipotecar o futuro com consequências muito negativas no médio e longo prazo. Espero que os governos do mundo não lavem daí as mãos…

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