Apple Daily: “Finalmente aconteceu”

por Filipa Rodrigues
Yen Yen Lei

Esta semana, as buscas feitas ao jornal Apple Daily por 200 agentes da polícia de Hong Kong devido a suspeita de crimes de violação da lei de segurança nacional receberam grande atenção da comunidade internacional.

O PLATAFORMA falou com dois jornalistas do diário, que pediram para não ser identificados por razões de segurança, que deixaram a sua visão sobre o incidente e a atual situação dos media na cidade.

“John” [nome fictício], que trabalha no Apple Daily há mais de cinco anos, esclareceu que estava ausente do jornal durante a ação policial e soube dos acontecimentos pela emissão em direto do jornal. Nesse momento, grande parte dos jornalistas estava fora do escritório em trabalho, condição que evitou que fosse criada uma situação caótica. Segundo Li Kwai Wah, inspetor geral do Departamento de Proteção de Segurança Nacional, foi pedido à polícia que não revistasse a secção editorial devido à quantidade de informação e material noticioso que possui, mas, sendo que entre os detidos há jornalistas, o local teve de ser revistado. “John” disse, contudo, que esse argumento não coincide com os factos. “De certeza que investigaram os materiais de imprensa que estavam espalhados por cima das mesas”, considerou.

Duas centenas de agentes policiais de Hong Kong fizeram buscas à sede do Apple Daily

O jornalista reconheceu, todavia, que já tinha antecipado que uma situação como esta pudesse vir a acontecer. “É difícil de aceitar quando algo assim acontece, especialmente quando somos revistados, um por um, ao entrar no escritório. Não faz sentido”. “John” classificou a ação policial como “um grande ataque à liberdade de imprensa, que destrói toda a ideia que tinha sobre a liberdade em Hong Kong”. Mesmo assim, assegurou que não está disposto “a desistir por causa do medo”. Disse acreditar que todos os jornalistas vão continuar o respetivo trabalho em silêncio. Aproveitou também para agradecer todo o apoio que os jornalistas têm recebido, tendo ficado especialmente sensibilizado com comentários que leu online. “Mesmo que imprimam o jornal em branco, continuaremos a comprar”, foi um dos que o marcou.

“Joseph”, [nome fictício], jornalista há um ano no Apple Daily, descreve-o como “o único jornal com uma posição clara pró-democracia, sendo por isso o primeiro alvo” na aplicação da recente Lei de Segurança em vigor no território. Já sobre outros órgãos de comunicação apontados como tendo linhas editoriais pró-democracia, como a Radio Television Hong Kong e a Stand News, previu que “podem ser os próximos” alvos da polícia. “Estão todos preparados. O Apple Daily costuma estar sempre no centro de qualquer tempestade. Lembrou que o ex-Chefe do Executivo Leung Chun-ying supervisiona todas as ações do jornal, portanto o que aconteceu não foi surpresa. Por isso, quando surgiram as primeiras notícias sobre a ação policial disseram ter sentido que “o esperado finalmente tinha acontecido.”

“Joseph” lembrou ainda que a polícia deve estar agora à espera de recolher provas que provem o alegado envolvimento do jornal e de jornalistas “em atividades criminosas”.

Na passada segunda-feira, 10 de agosto, quase duas centenas de agentes policiais de Hong Kong conduziram uma busca no edifício do jornal Apple Daily, na Tseung Kwan O New Town. A polícia afirma ter conduzido a investigação ao abrigo de um mandato judicial por suspeita de crimes de violação da segurança nacional. Li Kwai Wah, inspetor geral do Departamento de Proteção de Segurança Nacional, afirmou terem sido detidos durante a operação nove homens e uma mulher. Indicou que foi descoberto “um grupo de criminosos que exigia sanções internacionais a Hong Kong, liderado por dois homens e uma mulher, que era financiado por vários membros de órgãos de comunicação social através de contas bancárias no estrangeiro, continuando em atividade mesmo após a aprovação da nova lei de Segurança Nacional de Hong Kong.

O Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado respondeu ao incidente, manifestando apoio à ação policial e defendendo que “grupos criminosos anti-China que põem em causa a segurança nacional e conspiram com forças externas” devem ser punidos de acordo com a nova lei. Recordou ainda os protestos planeados e organizados por Jimmy Lai para conseguir juntar fundos para apoiar as forças de independência de Hong Kong, criticando os participantes e apelidando-os de “marionetas políticas de forças internacionais”.

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