Viva o Rei, abaixo a monarquia

por Arsenio Reis
Arsénio Reis*

Admitindo que o sangue real não é imune aos sentimentos mais básicos de um ser humano, não deve ter sido fácil a Filipe sugerir/exigir ao pai Juan Carlos que abandone o país onde sempre viveu.

Um filho – bem formado – dificilmente pode aceitar as amantes, os negócios pouco claros ou o gosto do pai pela caça grossa, nomeadamente aos elefantes, mas – imagino – que isso não o impeça de ter a voz embargada quando lhe pediu para sair de casa.

Filipe VI não perdoou agora ao pai como já antes não tinha perdoado à irmã.

Já em março o atual monarca espanhol tinha renunciado à herança que lhe poderia chegar por via direta. E dava assim um sinal claro de distanciamento face ao homem que antes dele tinha ocupado o trono de Espanha, ao longo de quase quatro décadas.

Nada de muito novo face ao que já tinha feito à irmã, a quem retirou o título de Duquesa de Palma de Maiorca, ainda antes de a ver sentada no banco dos réus.

Cristina, que deixou de ser duquesa, era acusada de cumplicidades com o marido que foi julgado e condenado. Ela foi absolvida, mas o seu irmão, o Rei, não esperou pelo veredicto para lhe retirar o título que lhe tinha sido atribuído quando esta se casou.

O escrutínio, em democracia, só conhece os limites da lei. Na monarquia os da inviolabilidade, um grande palavrão que neste caso se confunde com impunidade.

Não sei se Filipe VI fez tudo bem, mas percebo que não terá feito tudo mal. Diria até que se fosse candidato numas eleições presidenciais em Espanha, sujeitando-se à avaliação do seu povo, teria algumas hipóteses de se manter na liderança do país.

O problema é que ele não foi eleito, nem ele, nem o pai que agora expulsou de casa. Por isso é que não sabemos a morada atual de um homem com mais de 80 anos, que foi a cara do país ao longo de quase 40.

Os dois disfrutam do estatuto de inviolabilidade, ou seja, no limite, Juan Carlos nunca será julgado e condenado pelo que fez…nem de bom, nem de mau. E isso não é compatível com um regime democrático.

O escrutínio, em democracia, só conhece os limites da lei. Na monarquia os da inviolabilidade, um grande palavrão que neste caso se confunde com impunidade.

Não quero saber qual o destino de Juan Carlos, no limite nem do de Filipe VI, mas preocupa-me o destino da democracia espanhola. Haverá até quem lute por ela de forma legal e leal, mas pode também haver quem a use – à democracia – para ganhar votos com o derrube da monarquia.

Esperemos que o povo de Espanha tenha a capacidade de avaliar uns e outros. O povo será o único que tem legitimidade para o fazer.

*Diretor do Plataforma

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