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Mulher e africana

Kâmia MadeiraKâmia Madeira

Longe vão os dias de Nzinga Mbande, Deolinda Rodrigues ou Belita Palma referências históricas, a primeira a nossa rainha intrépida, a segunda a combatente que lutava por um ideal e Belita que nos emocionava com a sua voz. Mulheres de força e que marcaram o imaginário de algumas gerações, sinto-me constrangida ao escreve-lo, mas tenho dúvida se hoje as meninas sabem quem são e o que representam, mergulhadas que estamos num marasmo em que cantoras e pessoas por vezes de idoneidade duvidosa vão pululando os nossos ecrãs com tempo de antena que considero excessivo….

Questionam-me o que é hoje ser mulher em África e como deveria ser?

Todos sabemos da importância que os africanos dão à família e das culturas em que as mulheres têm um grande papel, são as tais ditas sociedades matriarcais mas hoje já não é bem assim. Em Angola somos aproximadamente 30 milhões de habitantes maioritariamente mulheres, que enfrentam imensos desafios pois são quem providencia o sustento familiar, quem se encarrega do cuidado dos filhos, quem ocupa os bancos das universidades em busca de melhores qualificações ou quem tem mais de um trabalho e será que estes papeis são assim tão diferentes das outras nos outros continentes?

Considero que o que nos distingue é a capacidade de resiliência, a abnegação e a entrega, quem nunca ouviu dizer que onde come/dorme um ou dois comem ou dormem três nunca esteve com uma família africana. Como referi anteriormente os tempos são diferentes e numa sociedade globalizada com acesso à informação pequenos rituais e crenças se vão alterando, o alambamento/dote no noivado já não vem com a carta do pedido com coisas para quase toda a família da noiva, as separações já não têm necessariamente que ser discutidas em encontro familiar com presença de pais e padrinhos e já não se casa porque se engravidou, contudo os conselhos das tias e das avós são para serem ouvidos e seguidos não se vá perder o casamento, ou mulher que quer vestir as calças e cantar de galo deve ser aconselhada pelo líder religioso que mulher sábia edifica o lar estando sempre junto ao seu parceiro e questionando pouco… dir-me-ão que estou a ser paternalista e condescendente mas sou uma africana que cresceu na diáspora e que após 13 anos de regresso ao país sei que o gosto pelos trajes africanos e cabelo sem alterações químicas é para muitas um regresso à valorização da cultura, sei que as imensas senhoras que cuidam das famílias assumindo o papel de responsáveis da casa fazem-no pois são as segundas ou terceiras relações dos seus companheiros e que mesmo que queiramos criticar a poligamia é socialmente aceite mesmo que “debaixo do pano”.

Somos africanas, mas temos os mesmos sonhos e aspirações de todas as outras mulheres, queremos reconhecimento, melhores condições salariais, acesso à educação e oportunidades iguais às dos homens, mas não nos confundam não queremos ser homens queremos apenas ser felizes e sem julgamentos.

*Professora de História, trabalha na Academia Bai como diretora de responsabilidade social

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