Dia da Mulher Africana

por Fernanda Mira
Helena BrandãoHelena Brandão*

Mais uma data, mais um dia instituído para recordarmos o que vai mal na sociedade onde estamos inseridos, qualquer que seja a zona do mundo. 

Quando há 58 anos atrás, no dia 31 de Julho de 1962, em Dar-es-Salam, Tanzânia, na Conferência das Mulheres Africanas, foi consagrado este dia para que o Mundo refletisse no papel da mulher africana na sociedade, provavelmente não se pensaria que, quase seis décadas depois, haveria ainda um longo caminho (que poderá levar outras tantas décadas) a percorrer, para que as mulheres africanas vençam a luta que travam e que sejam finalmente reconhecidas como capazes de desempenhar um papel importante no sucesso e engrandecimento de Africa.

Ao longo deste percurso e fruto das lutas travadas, foram alcançadas muitas vitórias que hoje se podem observar: independência económica, cargos de decisão e de poder, que muito contribuíram e têm contribuído para o sucesso dos seus países e delas próprias na sua condição de mulher e sobretudo de mulher africana.

Hoje vemos a mulher africana, perfeitamente integrada em profissões que antes eram exclusivamente para homens, como por exemplo na aviação civil, na política e mesmo no campo militar, mostrando assim que vale a pena lutar por ideais que podem ser concretizadas com persistência e querer, mas sem demagogias. A sua capacidade de sofrimento, a sua natureza conciliadora, a firmeza, a tenacidade e sobretudo a sua honestidade, permite-lhe liderar a resolução de situações por mais complicadas que sejam.

Este dia continuará a ser evocado, infelizmente por muitos mais anos porque, apesar das conquistas visíveis, a situação da mulher africana continua a ser dramática. Nas zonas de conflitos armados e de guerra civil,  a franja da população mais desfavorecida, é a mulher. Fica em casa a cuidar dos filhos e a lutar pela sobrevivência da família, porque o marido ou o companheiro está ausente. É a mais sacrificada, para além de enfrentar uma guerra e as consequências trágicas daí resultantes, sofre em silêncio o drama da violência doméstica.

A diferença entre os sexos em África, continua a ser preocupante, no que diz respeito à educação das meninas, embora actualmente haja mais raparigas a frequentarem escolas e universidades, muitas abandonam a sua formação para casarem, dedicarem-se à casa e ao marido. Se exercem uma actividade laboral, a remuneração da mulher é sempre inferior da do homem, contudo já há reações das mulheres face a esta descriminação, que através de várias formas de luta vão conquistando o seu lugar.

Para além de todos os dramas e situações bem visíveis que as mulheres africanas enfrentam, há outro bem mais poderoso, que são as fortes tradições que funcionam como “leis”. Acompanham gerações, cada tribo e etnia tem as suas e não se quebram regras de uma tradição ancestral de um dia para o outro. As tradições levam a mulher africana a uma dependência do pai, do marido ou companheiro e às vezes dos tios, na falta do pai.

Estas regras que atravessam gerações, onde a mulher é a sacrificada, cria nos homens preconceitos, o pior deles a supremacia,  que só deixarão de existir (será?), quando o homem encarar a sua companheira, mãe, filha, a MULHER, como uma igual.

É certo que muitas barreiras foram e estão a ser quebradas, há muito ainda a fazer, mas a Mulher Africana, pela sua característica especial, mesmo que leve mais algumas décadas, pouco a pouco está a vencer a luta que trava há muitas décadas.

*Presidente da Associação dos Amigos de Moçambique, natural da província da Zambézia e radicada em Macau há 35 anos

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