“A máscara é incómoda, mas é mais incómodo morrer”

por Filipe Sousa
Ana Rita Guerra

Os EUA são o país mais afetado pela pandemia. Califórnia, Flórida e Texas apresentam os maiores volumes diários de novas infeções, mas a reabertura levou a surtos um pouco por todo o país. O presidente-eleito da Associação Americana de Saúde Pública (APHA, na sigla inglesa), José Ramón Fernández-Peña, explica o que se está a passar.

Entrevista a José Ramón Fernández-Peña, presidente-eleito da Associação Americana de Saúde Pública – American Public Health Association. Com mais de 4,3 milhões de casos de infeção conhecidos e acima de 148 mil mortos, os Estados Unidos são o país mais afetado pela pandemia de covid-19. Califórnia, Flórida e Texas apresentam os maiores volumes diários de novas infeções, mas a reabertura levou a surtos um pouco por todo o país. O presidente-eleito da Associação Americana de Saúde Pública (APHA, na sigla inglesa), José Ramón Fernández-Peña, explica o que se está a passar e como a dissonância entre a ciência e as decisões políticas tem atrasado a recuperação.

Como caracteriza a situação atual nos Estados Unidos?
Está bastante mal. O número de casos continua a aumentar de forma dramática e o número de mortos continua a aumentar, embora não tão dramaticamente. Vemos que há cada vez mais casos em pessoas jovens, entre os 20 e os 40 anos, e estamos a encontrar casos em crianças, normalmente acima dos dez anos. Em muitas regiões do país não estamos a seguir as diretivas lógicas de saúde pública, que são lavar as mãos, usar máscara e manter distância física.

Ainda assim, o caso mais grave, que era Nova Iorque, está a mostrar grande recuperação.
Sim, mas em Nova Iorque levaram isto a sério. Pegaram na informação da ciência para aplicar às políticas no estado e estamos a ver os bons resultados de observar estes três cuidados – manter a distância, lavar as mãos e cobrir a cara. É importante explicar que a máscara tem de cobrir a boca e o nariz. Se não cobrir o nariz, não serve.

Como se explica que estados com mais casos tenham menor fatalidade? Por exemplo, a Flórida tem mais infeções que Nova Iorque mas menos mortos.
Em Nova Iorque tudo começou muito antes. Quando começaram os casos, não se tinha ainda encontrado nenhum tipo de tratamento. Ainda não há um tratamento eficaz, mas há o soro dos pacientes que já tiveram a infeção, que reduz o tempo em uma pessoa permanece nas unidades de cuidados intensivos. Com isso, reduz-se a mortalidade.

Mas Estados Unidos já ultrapassam os quatro milhões de infetados.
Sim. É uma vergonha.

E quase 150 mil mortos. O país poderá levar mais tempo a vencer a pandemia que outras partes do mundo?
O mundo é muito mais pequeno do que era em 1918. Estamos a ver agora o número de casos na África do Sul a multiplicar-se a velocidades espantosas. O mesmo no México. No Brasil. Não sabemos bem o que se está a passar na Índia, onde há mais de um milhão de casos, nem noutras partes de África Central, ou na Rússia. O número de casos está a aumentar em muitas partes do mundo. Em Israel, Suécia. É um problema global, então a atitude tem que ser global. Não pode ser “eu vivo em Barcelona onde há menos casos por isso quero liberdade.”

É isso que se passa nos locais menos afetados, as pessoas têm menos cuidados?
Sim, mas mesmo nas cidades muito afetadas. Olhem como está a Florida. E o seu governador, ainda assim, não diz o que devia dizer. Por causa da política. Nas suas mãos vão estar todas as mortes que ocorram.

Acredita que o partidarismo numa questão que é de saúde pública está a condenar os EUA?
Estou convencido que sim. É importante que todos entendam que estas medidas não restringem a nossa liberdade, não cortam o nosso respeito, e que se não levarmos isto a sério vamos passar muito tempo a lidar com esta pandemia. A pandemia faz o que as pandemias fazem: mata. Já tivemos várias, como a pandemia da SIDA há não muito tempo. Por ignorância morreram milhões de pessoas. Agora temos a oportunidade de aprender e atuar com base em informação. Se escolhemos não adotar estas medidas de segurança, a culpa é nossa.

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