Embaixador do Brasil em Pequim pede mudanças no Fórum de Macau

por Marco Carvalho
João Pimenta

O embaixador brasileiro em Pequim apelou esta sexta-feira ao Fórum de Macau que se foque nos países menos desenvolvidos, apontando que o organismo “nunca foi central” para o relacionamento entre o Brasil e a China.

“O mais promissor seria que a China buscasse utilizar o fórum para promover projetos que beneficiem os países menos desenvolvidos da comunidade de países de língua portuguesa”, disse Paulo Estivallet de Mesquita à agência Lusa, em Pequim.

“Nesse ponto, achamos que falta ainda muito por fazer”, apontou.

No âmbito do Fórum de Macau, a China criou um Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, no valor de mil milhões de dólares (879 mil milhões de euros), e gerido pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB, na sigla em inglês).

Empresários queixam-se, no entanto, da dificuldade em conseguir financiamento através do fundo, face às altas taxas de juro exigidas e difíceis de alcançar em projetos de infraestruturas.

Paulo Estivallet de Mesquita concordou que, apesar de “haver recursos disponíveis”, estes “não se traduziram, até ao momento, num volume de projetos concretos”.

“Acho que ainda falta, talvez, pensar melhor em como elaborar esses projetos, principalmente nos países menos desenvolvidos, de forma a que todos vejam as vantagens e os benefícios da iniciativa”, disse.

O diplomata considerou o Fórum de Macau uma “iniciativa centrada na China, a partir da China” que “nunca foi central” para o relacionamento do Brasil com o país asiático. “O que o Brasil tem buscado é favorecer atividades com uma vertente cultural e linguística. Nós não vemos problemas nisso”, apontou.

O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa foi criado em outubro de 2003.

A instituição tem sede na Região Administrativa Especial de Macau e é formada por representantes da China, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Sobre o possível impacto da pandemia da covid-19 nas trocas comerciais entre o Brasil e a China, o diplomata apontou para um aumento das exportações brasileiras, durante o primeiro trimestre do ano, em termos homólogos, particularmente de soja, produto dominante na pauta comercial.

“Dentro do G20, o Brasil é o país que teve o melhor desempenho [comercial], o que menos foi afetado”, apontou.

Quanto ao acordo comercial “Fase 1”, assinado entre China e Estados Unidos, o embaixador diz que é “difícil verificar exatamente o impacto” para as exportações brasileiras, mas lembrou que apesar do compromisso estipular metas quantitativas, os chineses asseguraram que as compras serão feitas com base nas condições de mercado.

Segundo o acordo assinado no início do ano a China deve importar 200 mil milhões de dólares (quase 180 mil milhões de euros) adicionais em bens oriundos dos Estados Unidos, nos próximos dois anos, incluindo produtos agrícolas, energia e bens manufaturados, para reduzir o défice comercial entre os dois países.

“Um direcionamento de compras chinesas não seguindo as regras do mercado, estaria em violação das regras comerciais multilaterais, e isso seria motivo de preocupação, mas os chineses têm assegurado e tem sido esse o comportamento no mercado”, apontou. “Até agora não houve impacto negativo sobre as exportações brasileiras e esperemos que continue a ser assim”, disse.

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