Morreu Sérgio Ricardo, símbolo da bossa nova e do cinema novo

por Filipe Sousa
Renato Terra

Artista morreu aos 88 anos, vítima de problema cardíaco, depois de recuperar da covid-19. Referência na música e no cinema brasileiro, elegeu como momento mais marcante, o Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, quando partiu o violão e atirou para o público, que o vaiava.

Sérgio Ricardo era solidariedade infinita. Sua obra na música, no cinema, no teatro, na pintura tem origem nesse olhar verdadeiramente voltado para as outras pessoas. “Eu faço isso por uma questão uterina, se eu tivesse útero. Porque o meu negócio é o meu ser com o meu semelhante. Não é uma oportunidade que eu esteja querendo desfrutar. Isso aí é uma coisa minha, amanhã quando eu subir no paraíso, eu vou ficar falando daquele mendigo pobre coitado, ninguém deu bola pra ele, coisas assim”, me disse o Sérgio na entrevista para o documentário “Uma Noite em 67”.

A obra de Sérgio permanece. Os versos “Tristeza mora na favela/ Às vezes ela sai por aí/ Felicidade então/ Que era saudade sorri/ Brinca um pouquinho/ Enquanto a tristeza não vem”, da música “Enquanto a Tristeza Não Vem” continuam ecoando e embalando de lirismo a dura realidade brasileira. Ou como diz o verso de “Esse Mundo é Meu”: “Mas acorrentado ninguém pode amar”.

Junto com Geraldo Vandré e Carlos Lyra, Sérgio trouxe a bossa nova para olhar de perto a realidade brasileira. Suas músicas têm harmonias belíssimas, mas não falam de sol, sal ou mar.

A cada enchente, lembramos de “Zelão”. “Todo morro entendeu quando o Zelão chorou/ Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval/ No fogo de um barracão/ Só se cozinha ilusão/ Restos que a feira deixou/ E ainda é pouco só/ Mas assim mesmo o Zelão/ Dizia sempre a sorrir/ Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar”.

Em sua entrevista para “Uma Noite em 67″, Chico Buarque disse: “Quando apareceu a bossa nova, eu reneguei o que havia antes. E o Sérgio Ricardo além de fazer parte do movimento, fazia aquelas músicas um pouco modernistas. Músicas sem rima. Eu adorava aquilo. Além disso, ele foi um dos primeiros a começar a fazer músicas de movimento social como ‘Zelão’. ‘Pedro Pedreiro’ tem um pouquinho a ver com isso. Tudo tem a ver com o Sérgio Ricardo nessa minha fase primeira certamente.”

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