ONU ao Plataforma: “Ataques no centro de Moçambique são reflexo da guerra pelo poder na Renamo”

por Fernanda Mira
Arsénio Reis

Não combatem o processo de paz nem apresentam reivindicações políticas claras. Mirko Manzoni, o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para Moçambique só tem uma explicação para os ataques que a autoproclamada junta militar da Renamo tem levado a cabo na região centro do país: a divisão de poderes dentro da Renamo.

O processo de paz em Moçambique, que assenta na desmilitarização, desarmamento e reintegração de mais de cinco mil combatentes da Renamo, tem vindo a ser adiado por causa desta situação de instabilidade.

Mirko Manzoni – em entrevista ao PLTAFORMA – afirma que Mariano Nhongo, General dissidente da Renamo, não questiona a importância do processo de paz, mas não o aceita por contestar a liderança de Ossufo Momade, o atual presidente daquele partido.

Um problema político interno, que está a afetar a vida dos moçambicanos.

A atuação da autoproclamada junta militar, liderada por Mariano Nhongo, tem estado a provocar instabilidade e a atrasar o processo de paz. Os ataques que a junta tem levado a cabo provocaram, até agora, pelo menos 40 vítimas mortais, entre elas a de uma criança de 6 anos.

Na opinião de Mirko Manzoni esta é uma situação particularmente difícil de justificar, nomeadamente junto dos familiares das vítimas destes ataques da junta militar.

Os ataques da junta militar, as recentes eleições e – nos últimos meses – a pandemia de covid-19, estão a provocar atrasos na desmilitarização, desarmamento e reintegração, que são os passos previstos no processo de paz. Em causa o regresso à vida civil de cinco mil combatentes da Renamo, num processo com apoios definidos e que tem duas fases. Primeiro com apoios diretos à compra de materiais que permitam o cultivo da terra, ou a construção de uma habitação, e, numa fase seguinte, a atribuição de uma comparticipação financeira equivalente à pensão dos militares que se reformam.

A questão é que a junta militar continua a receber apoios para a sua luta, concluiu Mirko Manzoni, numa dedução que diz ser lógica.

Este é um caso nas mãos da Procuradora Geral de Moçambique, Beatriz Buchili, que estará a investigar quem afinal suporta logística e financeiramente a autoproclamada junta militar, liderada por Mariano Nhongo.

O enviado do secretário-geral das Nações Unidas, Mirko Manzoni, acredita, apesar de tudo, que será possível alcançar um entendimento que permita o avanço e a consolidação desta fase do processo de paz, que foi acordada e assinada em agosto do ano passado.

Nesta entrevista ao PLATAFORMA, Mirko Manzoni, fala ainda da situação de conflito em Cabo Delgado, para defender que não deve ser enviada uma força internacional para o terreno. O enviado de António Guterres sugere que o apoio da comunidade internacional seja dado ao Estado moçambicano, por essa ser a forma de dotar as autoridades daquele país dos meios para o combate a futuras situações de insegurança.

Em relação a Cabo Delgado sublinha ainda que o conflito não tem motivações religiosas nem esta diretamente relacionado com a descoberta de reservas de gás mundialmente assinaladas.

Leia a posição Mirko Manzoni sobre a situação em Cabo Delgado

ONU ao Plataforma: “Força internacional em Cabo Delgado não é solução para o conflito”

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