Olá Cantão, até já Hong Kong

por Filipa Rodrigues

José Luís Sales Marques, Sam Tou e Angus Cheong consideram que a reabertura de fronteiras entre Macau e Guangdong constitui uma medida positiva que vai trazer benefícios ao território. A decisão de abrir a mobilidade entre as duas regiões coincidiu com novas restrições à circulação entre Macau e Hong Kong devido a um novo surto de casos de Covid-19 na região vizinha.

“Está-se a observar um fenómeno de reabertura de fronteiras. As condições sanitárias na província de Guangdong estão a melhorar. Há uma aposta de abertura na Área da Grande Baía (AGB), com exceção para Hong Kong”, lembrou Sales Marques, também presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, em declarações ao PLATAFORMA.

Para o economista, “de certa forma o que se nota é que há uma vontade de fazer uma abertura a toda a China e esse esforço é correspondido do outro lado da fronteira. Há aqui uma reciprocidade para facilitar os movimentos entre os dois lados da fronteira. Uma aposta de mobilidade”.

Nas palavras do analista, “esta abertura vai contribuir, seguramente para a melhoria da situação económica. Vai trazer alguma coisa de positivo”. 

“Se as contas não me falham, no passado, 50 por cento ou mais do turismo de Macau tem origem na região da Área da Grande Baía. E isso são muitos milhões de pessoas, de turistas”, lembrou. 

José Luís Sales Marques tem poucas dúvidas de que esta abertura “vai permitir uma recuperação da economia do território”.

Mas, advertiu, será difícil esse novo movimento nas fronteiras ajude à recuperação do jogo para números próximos dos anteriores à pandemia.

“Agora que será algo de positivo, isso sem dúvida. Mas não estamos a falar de uma abertura a 100 por cento. É uma coisa gradual, mitigada. Além disso ainda é preciso perceber se as pessoas querem gastar dinheiro no jogo e, dentro deste, quais os setores que vão sentir mais essa melhoria. O jogo VIP, o jogo de massas? O tempo o dirá”, acrescentou.

Sales Marques acentuou ainda que em termos de probabilidades, “os números que aí vêm não vão ser, seguramente, os que se registaram em agosto ou setembro do ano anterior. Vai ser bem mais fraco, embora, com certeza venham atenuar o decréscimo que se tem verificado no mercado do jogo nestes tempos de pandemia”.

“Os números da performance económica de Macau, obviamente serão consolidados à medida que vão crescendo. Mas Macau está mesmo a precisar disto. As pequenas e médias empresas estão a necessitar disto, não só a indústria do jogo. Há um grande desgaste, não só do ponto de vista quantitativo, mas também psicológico. Por isso, esta abertura é mesmo positiva. Quanto aos números, no final de agosto, setembro, veremos. Mas nas ruas vai-se perceber essa abertura”, concluiu.

Sam Tou, Diretor Executivo, Banco Nacional Ultramarino, Macau, lembrou que Macau, “por ser um território pequeno, com uma economia aberta e como destino internacional de turismo e jogo, depende muito do mercado externo”. 

“O Produto Interno Bruto (PIB) de Macau é maioritariamente proveniente do setor de serviços, portanto, o crescimento do território está a ser severamente afetado pelas restrições de viagens e pelas paralisações das fronteiras aplicadas devido ao COVID-19”, disse ao PLATAFORMA. 

No entanto, admitiu, com “a pandemia sob controlo em Macau e na China continental, a remoção de algumas das restrições de viagem, nomeadamente a quarentena obrigatória de 14 dias, entre Macau e província vizinha de Guangdong poderá trazer algum alívio económico à cidade e começar a fazer-se o caminho para uma recuperação gradual”. 

“É também um passo importante para retomar uma integração mais próxima entre as nove cidades da província de Guangdong incluídas no projeto da Área da Grande Baía”, concluiu.

Já Angus Cheong, Fundador e CEO da eRS Innovation & Insights, assinalou que “a reabertura da fronteira com Guangdong é um dilema para muitas pessoas”.

“Uns pensam que essa decisão é boa para a recuperação da economia e para as atividades comerciais entre Macau e a Grande Baía, já outros podem estar preocupados com o perigo da possível importação de novos casos de covid.19. Penso que não se pode fechar tudo e esperar que Macau possa retomar o ritmo de economia nos pequenos negócios da comunidade”, apontou.

E concluiu: “Ainda precisamos de tomar medidas cautelosas para impedir outra onda do vírus pandémico. Os alertas continuam a ser necessários quando a linha vermelha está por perto, especialmente quando recebemos notícias alarmantes vindas do nosso vizinho de Hong Kong”.

José Luís Sales Marques, Sam Tou e Angus Cheong vão participar na próxima quarta-feira, 22, num webinar coorganizado pela Fundação Rui Cunha e pelo PLATAFORMA, moderado pelo diretor-geral do jornal Plataforma, Paulo Rego, subordinado ao tema “Os novos desafios económicos de Macau”.

Semana de novidades
Os últimos dias trouxeram novidades para aqueles que pretendem entrar e sair de Macau, ou circular entre as diferentes regiões que rodeiam a cidade. 

Com o fim, ontem, quinta-feira, do período estabelecido para o corredor especial entre Macau e o aeroporto de Hong Kong, o Governo local anunciou no início desta semana uma alteração de procedimentos: quem entra ou sai de Macau tem de apresentar um teste de ácido nucleico negativo ao novo coronavírus. 

As dúvidas geradas com esta decisão foram muitas. Pessoas que já tinham bilhete de avião comprado, foram obrigadas a deslocar-se rapidamente ao local onde se realizam estes testes. As informações disponíveis eram poucas e depressa se observou uma aglomeração de centenas de pessoas no Posto de Testes de Ácido Nucleico do Pac On a requerer, com urgência, e muita ansiedade à mistura, a realização do teste. 

Esta medida surgiu na sequência de um aumento de significativo do número de casos positivos de covid-19 em Hong Kong verificado nos últimos dias. As autoridades da região vizinha de Macau voltaram a endurecer as medidas de prevenção, de acordo com o jornal diário South China Morning Post, com especial enfoque no distanciamento social. 

Se o fluxo de pessoas com Hong Kong voltou a complicar-se, o tráfego transfronteiriço com a província de Cantão começou a recuperar desde o início da manhã da passada quarta-feira. Pessoas a viajar de Macau para Guangdong ou no sentido inverso deixaram de ter de cumprir um período de 14 dias de quarentena obrigatórios em nove cidades desta província.

Todos os viajantes que desejem entrar em Cantão ou em Macau terão que apresentar um certificado de resultado negativo do teste de ácido nucleico do novo tipo de coronavírus, realizado nos últimos sete dias, bem como os respetivos códigos de saúde de Macau e da província de Cantão. A medida não se aplica aos residentes estrangeiros.

Acredita-se que esta medida vai trazer um novo impulso a uma economia da cidade, deprimida por quase cinco meses de restrições draconianas em matéria de viagens e que viu desparecer das ruas os enormes fluxos de turistas que atingiram praticamente a marca dos 40 milhões de pessoas em 2019.

Recorde-se que as receitas do jogo em Macau caíram 97 por cento em junho e mais de 77 por cento no primeiro semestre, em relação a iguais períodos de 2019.

Os visitantes são essenciais para a economia de Macau. A última revisão das previsões macroeconómicas da Universidade de Macau (UM) aponta para uma quebra entre 54,5 por cento e 60% por cento no Produto Interno Bruto (PIB) do território neste ano.

Com a abertura gradual das fronteiras a partir de agora, os indicadores económicos de Macau poderão sofrer uma alteração positiva. Na China Continental, as cidades abrangidas pela nova medida são Zhuhai, Guangzhou, Shenzhen, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing.

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