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Macau pode esperar

Paulo Rego

O cerco sanitário mantém Macau a salvo da pandemia, mas arrasta a economia para uma profunda crise, que ninguém verdadeiramente projeta. Com a queda do PIB em 60 por cento, o Chefe do Executivo atira a recuperação para final do ano. Tantas dúvidas… e uma certeza. Macau não tem pressa – pode e quer esperar. 

Ninguém espera manifestações de rua a exigir a abertura das fronteiras. Não vai acontecer

A sua geografia única permite isolar-se. Fecha fronteiras, como na “Cidade de Vidro”, de Bilal: respirem a morte lá fora, cá dentro o ar é nosso. As consequências económicas são pesadas. Contudo, as colossais reservas financeiras, o peso da Administração Pública na empregabilidade, a proibição de despedir residentes, os contratos rentistas e a distribuição de benesses… fazem das lojas que fecham e do drama da média burguesia, que desespera pelo regresso da normalidade, um colateral menor – e controlado. 

Ninguém espera manifestações de rua a exigir a abertura das fronteiras. Não vai acontecer.

O aumento dos casos de infeções em Hong Kong mantém fechadas as fronteiras com a antiga colónia britânica – não vão abrir tão cedo. Diminui dia a dia a interdependência financeira, económica, e até relacional e lúdica, com o outro lado do Delta. Também aqui há consequências negativas – até ao nível da massa crítica e da cultura de exigência política. Mas se há coisa que descansa Pequim é Macau virar costas a Hong Kong e virar-se para o Continente. A fronteira com a Grande Baía vai abrir rapidamente. Essa relação, incontornável, vai acelerar o carril da diversificação como saída da crise.

Finalmente… não menos importante. Os casinos sofrem perdas colossais, as operadoras desvalorizam e emitem dívida. Diria a economia pura, fixada nos números: é um drama deixar cair a indústria que sustenta Macau. Intui a política especulativa – ou sofisticada: quando o turismo voltar, quanto perderam os casinos americanos? Qual será a capacidade negocial na renovação das concessões, sem rede política perdida na guerra anglo-saxónica ao comunismo capitalista? Qual é o real interesse em “nacionalizar” o Jogo e impedir a fuga de capitais?

Macau não tem pressa. Ganha a saúde, claro. Compreende-se. 

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