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“Portugal tem que repensar posicionamento” sobre rota da seda

Alexandra Luís e Luísa Meireles

“A China, nesta crise, revelou de facto algumas facetas que são sempre esperadas de um regime totalitário, mas não na dimensão em que elas ocorreram”, afirmou António Costa Silva, em entrevista à Lusa. 

Relativamente ao papel de Lisboa na nova rota da seda, Portugal “deve repensar porque nesta altura (…) há muita coisa nova a passar-se no mundo e, portanto, nós vemos as reações que tudo isso está a provocar em termos deste novo posicionamento e desta nova guerra fria que existe”, referiu.

“Mas eu separaria esse ponto, que é vital e que a Europa tem que refletir, da relação económica com a China”, sublinhou o gestor, pois “a relação económica de Portugal com a China é uma relação boa” e deve manter-se.

“Penso que temos de ser mais cuidadosos do que nunca, nós Portugal, mas mantendo o nível das relações económicas e discutindo com os nossos parceiros europeus provavelmente uma abordagem unificada para este problema que se está a gerar no mundo”, sublinhou.

Questionado sobre o facto de setores estratégicos como a energia em Portugal estarem nas ‘mãos’ de investidores chineses, António Costa Silva recordou que na altura da sua entrada no capital foram estes que apareceram.

“Na altura também que era necessário foram os chineses que apareceram. É evidente que é sempre um bocado difícil quando nós analisamos ver a dependência de setores estratégicos de uma empresa chinesa, do Estado chinês, que as empresas que estão presentes quer na EDP, quer nos outros setores chave da energia, são empresas estatais chinesas”, apontou o gestor, que vai coordenar os trabalhos preparatórios de elaboração do Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030.

“É um fenómeno novo com que nos temos de deparar, mas é por isso que, provavelmente, nesta nova fase é muito importante termos uma economia mais resiliente e o que nós precisamos é de várias empresas nacionais que sejam realmente resilientes e não só uma, duas ou três com este paradigma de dependência do exterior”, considerou.

Questionado sobre não ser tranquilizador o retrato de Portugal ter algumas das suas grandes empresas estratégicas nas ‘mãos’ de investidores chineses, o presidente da Partex foi perentório: “Não é”.

Na altura, “provavelmente, poderia ter havido um maior equilíbrio na seleção dos acionistas, poderia ter havido um maior equilíbrio na conjugação dos vários poderes”, disse António Costa Silva, que neste momento prepara o plano de recuperação económica do país para uma década.

“Temos uma relação histórica com o Reino Unido, com os Estados Unidos. Mas na altura [em que os chineses entraram nas empresas portuguesas] também compreendo que a situação era extremamente difícil, era preciso encontrar uma solução”, prosseguiu.

Mas, “às vezes a pressa é má conselheira”, rematou o gestor.

António Costa Silva disse ainda não acreditar que venha a existir “no mundo uma espécie de cortina de ferro tecnológica”. Isto é, “as tecnologias e as novas tecnologias de redes 5G e outras que são cruciais para o futuro, para a Internet das Coisas, para o ‘big data’, para tudo o que vem aí”, considerou.

O desenvolvimento do 5G e o papel que a fabricante chinesa Huawei tem nesta área tem servido de mote para o ‘braço-de-ferro’ entre Washington e Pequim, sendo que a empresa foi banida de operar nos Estados Unidos.

“Acredito que no fim vamos ter aqui uma cooperação entre as várias soluções tecnológicas dos vários países, mas é muito difícil uma tecnologia traçar fronteiras. Portanto, ter parte do mundo a funcionar com uma tecnologia, outra parte com outra, se isso acontecer vai ser uma reversão muito grande”, considerou o gestor.

Além disso, não se sabe o que vai acontecer com a reconfiguração do poder na China.

António Costa Silva admitiu ainda a possibilidade de numa “fase imediata” o processo de desenvolvimento do 5G poder “travar”.

Tudo “vai depender do resultado final das eleições” nos Estados Unidos, “se continuarmos com o Presidente Trump eu acho que aí as coisas vão ser muito mais difíceis e, portanto, esta questão do 5G vai-se reconfigurar de novo”, advertiu.

“Vamos ver nos próximos anos, provavelmente, esta espécie de uma cortina de ferro tecnológica a existir, mas acredito que no fim pode imperar a sensatez. Vamos ver o desfecho da eleição americana”, disse ainda, sublinhando que “o controlo das tecnologias de ponta é fulcral porque são elas que vão formatar o futuro”.

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