Uma vénia aos profissionais de saúde

por Guilherme Rego
Filipa RodriguesFilipa Caeiros Rodrigues*

Ao ler a entrevista dada por Roberto Roncon, intensivista do Centro Hospitalar São João ao jornal Expresso, esta semana, dei comigo a pensar nos profissionais de saúde do mundo inteiro, mas sobretudo naquilo a que têm estado sujeitos nos últimos seis meses.

Estes profissionais estão naturalmente exaustos. Exaustos da violência física diária que “a guerra contra a Covid-19” exige. Exaustos da violência psicológica diária a que estão sujeitos por, apesar de nunca abandonarem as vidas que têm entre mãos, por vezes, falharem na sua missão.

Estão, ainda, exaustos pelo receio de também eles eventualmente contraírem ou  sucumbirem fatalmente à doença, uma vez que nem a sua própria segurança está garantida, quer por falta de equipamentos de proteção individual necessários quer por excessiva exposição à carga viral, durante o exercício das suas responsabilidades.

E nalguns países, como por exemplo Portugal, também estão exaustos pela incapacidade dos políticos lidarem com a sua classe profissional. Roberto Roncon chegou mesmo a referir que em grande medida, a realidade que se encontra na sua “unidade [de cuidados intensivos] é resultado do que não está a funcionar nas conferências de imprensa” diárias do governo e da falta de uma mensagem clara que devia ser passada aos cidadãos.

Há que respeitar profundamente o trabalho que médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos de diagnóstico e terapêutica, assistentes técnicos e operacionais, de todo o mundo, têm feito ao longo destes meses. Nalguns países, inclusive, com a total saturação dos cuidados intensivos ou ruptura dos sistemas nacionais de saúde.

Devemos todos curvarmo-nos perante uma classe profissional mundial que, com tantos sofrimentos profissionais e sacrifícios pessoais, trava desde janeiro uma verdadeira guerra, para que o mundo se trate e livre do SARS-CoV-2

Há que agradecer aos profissionais que não desistem perante as adversidades (e neste caso são imensas) e não baixarem os braços contra o novo coronavírus, mesmo quando o cansaço é quase intolerável e as marcas visíveis [no rosto e corpo] deixadas pelos materiais de proteção provocam dores insuportáveis.

Há que homenagear os quase meio milhão de profissionais de saúde, que segundo um relatório divulgado pelo Conselho Internacional de Enfermagem, estão infectados com o SARS-CoV-2 em todo o mundo. E que conclui que mais de 600 enfermeiros já morreram de Covid-19.

Há que haver reconhecimento público e político pelo trabalho desenvolvido, competência na reação e resiliência demonstrados por estes profissionais face à pandemia e a um vírus totalmente desconhecido. Urge criar-lhes porque merecem melhores condições de trabalho, infraestruturas e carreiras.

Há que prestar tributo e mostrar um gesto de humanidade sincero a todos estes homens e mulheres que através da sua capacidade técnica, competência, amor ao próximo, solidariedade, coragem, fé e esperança, salvam vidas.

Ser médico ou enfermeiro é, sem dúvida, ter sentido de missão. Mas quem dá tantas provas de dedicação ao próximo e se expõe ao perigo desta forma, merece ver o seu esforço premiado com uma recompensa financeira e na carreira. Receber uma fase final de uma competição desportiva como prémio chega a ser ofensivo, a meu ver.

Devemos todos curvarmo-nos perante uma classe profissional mundial que, com tantos sofrimentos profissionais e sacrifícios pessoais, trava desde janeiro uma verdadeira guerra, para que o mundo se trate e livre do SARS-CoV-2.

*Jornalista do Plataforma

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