Cabo Verde avança para testes em massa à Covid-19

por Filipa Rodrigues
Ricardino Pedro

Ao fim de três meses de Covid-19 em Cabo Verde, o arquipélago diagnosticou perto de 900 casos e a doença já chegou a seis das nove ilhas habitadas, mas quase 65 por cento dos infetados só foram detetados no último mês, precisamente com a massificação dos testes rápidos, quase 30.000.

“Estamos a ter um número crescente de casos, era esperado, mas tem sido uma evolução relativamente benigna, porque a maior parte dos casos tem evoluído de forma assintomática”, começou por explicar o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, depois de o país ter registado a oitava morte associada ao novo coronavírus no passado dia 19, uma mulher de 31 anos, que tinha acabado de dar à luz na cidade da Praia.

Tal como os novos casos, do total de oito óbitos confirmados até ao momento em Cabo Verde, sete registaram-se desde maio, quase dois meses depois do início do estado de emergência no arquipélago.

As autoridades de saúde lançaram em meados de maio uma verdadeira ‘caça’ à doença, com testes rápidos que, não sendo de diagnóstico, permitem perceber a circulação do novo coronavírus na população e a imunidade desenvolvida. 

Os casos positivos são depois sujeitos ao teste de diagnóstico por PCR (Polymerase Chain Reaction) num dos laboratórios do Instituto Nacional de Saúde Pública, na Praia e no Mindelo (ilha de São Vicente).

“Tem-nos permitido avaliar a circulação do vírus nas comunidades, fazer o rastreio nos bairros da cidade da Praia. São mais de 16.000 testes rápidos realizados nos bairros e nas instituições”, assumiu Arlindo do Rosário.

A estratégia consiste na procura ativa dos casos positivos assintomáticos: “Aumentando rastreamento, massificando testes. São já mais de 30.000 testes a nível nacional”, explicou ainda. Somam-se mais de 2.500 testes de diagnóstico (PCR), que confirmaram quase 900 casos positivos até ao momento.

Com tendas da Cruz Vermelha de Cabo Verde colocadas pelos principais bairros da Praia, a população tem aderido em massa, com mais de uma centena de testes rápidos realizados todos os dias e resultados conhecido em poucos minutos.

O primeiro caso de covid-19 foi diagnosticado a 19 de março num turista inglês que acabaria por morrer na ilha da Boa Vista dias depois.

O ministro da Saúde de Cabo Verde admite que o país conseguiu atrasar a entrada da doença, com encerramento a voos internacionais desde 19 de março – restrição que só deverá ser levantada pelo Governo em julho – e depois com as medidas restritivas, de confinamento da população, em dois meses de estado de emergência em que também foram suspensas as ligações interilhas, marítimas e aéreas (retomadas em 11 de maio).

Santiago, sobretudo a cidade da Praia, capital, com um total superior a 700 casos diagnosticados, e o Sal, com uma centena apenas desde o início de junho, são as ilhas que mais preocupam as autoridades.

Há menos de uma semana (dia 21), o arquipélago contava com um total acumulado de 890 casos, entre as ilhas de Santo Antão (04), São Vicente (10), São Nicolau (02), Sal (99), Boa Vista (57) e Santiago (718, dos quais 623 na Praia). 

Já o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, afirmou no sábado passado que a pandemia de covid-19 no arquipélago está “sob controlo”, embora admita a necessidade de “melhorias” no combate, desde logo através do comportamento responsável da população. 

“Evidentemente que se pode sempre especular se podíamos estar numa situação melhor ou não. Mas é uma situação sob controlo, mas isto não depende apenas do trabalho das autoridades de saúde, da proteção civil, do Governo. Para continuarmos numa situação de controlo da epidemia e para eventualmente baixarmos os níveis de propagação tem de haver a colaboração, que é fundamental, das pessoas”, afirmou Jorge Carlos Fonseca.

Apelou mesmo à “responsabilidade individual” dos cabo-verdianos para “proteger o país”, quando se multiplicam críticas generalizadas às multidões que continuam a registar-se na Praia, apesar dos alertas das autoridades. Insistiu, contudo, na necessidade de a população cumprir com as regras de higiene sanitária e de distanciamento social: “Basta que 10% [da população] não cumpra as regras para que isso possa ter efeitos tremendos, terríveis”.

 O vice-primeiro-ministro cabo-verdiano, Olavo Correia, admitiu cortes e congelamento de progressões e promoções na função pública, devido à crise económica provocada pela pandemia de covid-19, mas afasta cortar salários ou aumentar impostos.  “O país está numa recessão económica, em consequência da pandemia, com todas as restrições inerentes. O contexto é de menos rendimento, menos dinheiro, menos liquidez, menos despesa, de mais sofrimento, mais pobreza e mais desemprego”, assumiu Olavo Correia, que é também ministro das Finanças.

O Governo de Cabo Verde prevê levar este mês ao parlamento um novo Orçamento do Estado para 2020, estimando que o endividamento público dispare para 150 por cento do PIB até ao próximo ano. O governante já estimou para 2020 uma recessão histórica em Cabo Verde que pode chegar aos 8% do PIB, após vários anos de crescimento económico acima dos 5%. 

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!