Cabinda quer paz e autodeterminação – entrevista completa do líder da FLEC-FAC

por Paulo Rego
Paulo Rego

O cessar-fogo acabou; Cabinda volta a contar mortos e refugiados; sobe a tensão política… Em entrevista exclusiva ao PLATAFORMA, o líder da FLEC-FAC declara-se “pronto a negociar a paz”; ataca os governos angolano e português, mas também Guterres e as Nações Unidas; pede ajuda para os refugiados. Até partilha o petróleo; mas há um preço: Cabinda quer paz e autodeterminação, explica Emmanuel Nzita, abrindo a porta a um referendo. “Como em Timor”, conclui.

O argumento histórico-jurídico ao qual se agarra a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda é o Tratado de Sinilambuco, assinado em 1885 – nas vésperas da Conferência de Berlim – no qual Portugal formaliza Cabinda como um protetorado. Tese, contudo, nunca assumida por Angola, que ao declarar a independência, em 1975, anexa o enclave, com base noutro conceito, desenvolvido pela ditadura de Salazar: “Angola é nossa (…) de Cabinda ao Cunene”.

Passados 45 anos, ainda assim o conflito mantém-se e a floresta de Maoimbe – rara extensão e densidade – protege um movimento de guerrilha que, incapaz de enfrentar o Exército angolano, mantém viva a chama da resistência. O perfil da resistência, de facto, tem alguma analogia com a resistência timorense décadas albergada nas montanhas. Não se sabe ao certo quantos homens terá a FLEC-FAC no terreno; mas o apelo às negociações de paz para Cabinda, lançado nesta entrevista por Emmanuel Nzita, é claro. A guerra não é solução, nem lhes interessa eternizá-la.

O PLATAFORMA tentou, sem sucesso, uma reação do Governo angolano à entrevista de Emmanuel Nzita; a UNITA diz que é “insanidade negar o conflito”, atira-se ao Governo angolano e critica a diplomacia de Lisboa, pelo seu alheamento no caso.

Emmanuel Nzita, filho do fundador da FLEC-FAC, Nzita Tiago, prometeu cumprir o legado do seu pai. O discurso, na altura, era o a independência, sem nuances. A porta aberta a um referendo a comparação com Timor; a pressão sobre Portugal e as Nações Unidas mostram uma forma diferente de lá chegar. Cabinda quer negociar a paz; encontrar soluções para os interesses ligados à extração do petróleo – mais de metade do crude exportado por Angola – e negociar um referendo para um modelo de autodeterminação.

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