Saúde dentro e fora da Crise Covid-19

por Guilherme Rego
Bebiana CunhaBebiana Cunha*

Já muito se tem falado de heróis anónimos em tempo de COVID-19. E estes heróis são todos os que desde o primeiro momento garantiram o funcionamento das nossas necessidades mais prementes. Falamos não só dos profissionais de saúde, mas também das forças de segurança, da proteção civil, dos transportes, dos profissionais da gestão de resíduos, entre tantos outros.

Tivemos a oportunidade de perceber a importância de cada um deles, do seu esforço e da sua entrega diária para que mantivéssemos a normalidade possível.

Atendendo período crítico em que nos encontramos e que poderá ditar o nosso futuro imediato, não podemos deixar de falar diretamente dos (e aos) profissionais de saúde. 

Os cuidados de saúde em Portugal têm sido reconhecidos como um exemplo positivo, pela universalidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), considerando as condições económicas e sociais dos cidadãos e de base tendencialmente gratuita. Este SNS, que se encontrava numa situação de subfinanciamento de difícil gestão, tem enfrentado de forma heroica o SARS-CoV-2 e a COVID-19. Numa altura em que muito pouco se sabia sobre este vírus e doença – e com o tanto que ainda há por descobrir -, em que não existiam materiais nem equipamentos para todos, onde cada vida era respeitada na sua unicidade, estes profissionais reorganizaram-se, assumiram a difícil tarefa – todos os dias a todas as horas – e não baixaram os braços, mesmo quando o cansaço era insuportável. Mesmo quando nem a sua própria segurança estava garantida: os profissionais que não tinham sequer equipamentos de proteção individual ou material de desinfeção e que encontraram soluções e forças para nunca abandonar quem estava nas suas mãos. O país tem que lhes estar grato, reconhecer o seu valor, competência e o elevado espírito de sacrifício. A todos: médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos de diagnóstico, assistentes operacionais, administrativos e demais profissionais da saúde. 

A prevenção tem que ser, portanto, a base do paradigma em saúde. Sem ela, esgotam-se os nossos profissionais, esgotam-se os recursos e falhamos nas respostas

Mas este reconhecimento não se faz apenas no ímpeto do momento, nas palavras, nos aplausos à janela. Esta gratidão tem que ser efetiva! O Orçamento de Estado (OE) 2020 trouxe algum alívio ao SNS. Todavia, este valor visou, em parte significativa, o pagamento de dívidas resultantes do subfinanciamento crónico de muitos anos. Com agravante, de que, com o atual OE retificativo, continua por resolver o essencial: os problemas de sustentabilidade, de negociação e revisão de tabelas salariais, de aquisição de equipamentos fundamentais, do investimento na saúde de proximidade, da contratação de recursos humanos e de implementação de um plano de diminuição dos tempos de espera. Ora, estes problemas só se resolvem com um investimento estrutural em matéria de saúde. Não mais podemos esconder a cabeça na areia, a COVID-19 mostrou-nos isso: faltam profissionais no SNS! É urgente dotar o nosso sistema nacional de saúde de condições que viabilizem a sua sustentabilidade, que o tornem atrativo para os profissionais e que permitam o pleno desenvolvimento da sua atividade normal, dentro e fora da crise COVID-19.

Depois das palmas, depois das palavras, é tempo da ação e das medidas efetivas, agilizando concursos, desbloqueando carreiras e contratando mais profissionais. Mas também valorizando as carreiras e definindo medidas de incentivo e de compensação dos profissionais que asseguram todo o período de crise. 

Se a saúde tem que ser eficaz na crise, mais forte tem de ser fora da crise, pois que só com melhores políticas de prevenção podemos aliviar o SNS. Só reduzindo a carga de doença podemos garantir maior disponibilidade de meios e recursos. O foco não pode continuar assente no combate à doença, deve sim estar também, e fundamentalmente, na promoção da saúde e nas respostas de proximidade. 

Para isso, é fundamental garantir já uma rede de saúde pública robusta e reforçada. Não podemos continuar a agir na e em face da crise. Temos que a antecipar, prever, prevenir. O risco epidemiológico das sociedades hoje não é o de décadas anteriores. Efetivamente, com os atuais estilos de vida, nomeadamente a alimentação e a forma como se depreda o planeta, outros surtos epidémicos virão antes deste vírus se tornar endémico. De modo que, a vigilância tem que, também ela, ser reforçada com uma aposta nos especialistas, para rapidamente serem identificados os agentes patogênicos e poder ser minimizado o impacto. Para que não tenhamos que pôr em risco a economia, os empregos, a segurança, a nossa saúde e a dos outros. Até porque sabemos que a doença agrava as desigualdades sociais e as desigualdades sociais contribuem para a doença. Ainda que atinja a todos, aprendemos que este vírus tem afetado mais quem menos tem. E também por isso importa proteger os mais vulneráveis, de forma a que deixem estar tão desprotegidos.

A prevenção tem que ser, portanto, a base do paradigma em saúde. Sem ela, esgotam-se os nossos profissionais, esgotam-se os recursos e falhamos nas respostas. Encontramo-nos num novo momento crítico para os profissionais de saúde. Sabemos que eles vão fazer o melhor. Faça-se também o nosso melhor, enquanto país, política e individualmente. 

*Deputada do PAN à Assembleia da República Portuguesa

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