Economia timorense vai demorar a recuperar, mas é uma oportunidade

por Guilherme Rego

A economia timorense vai demorar a recuperar após a Covid-19, com incertezas sobre o comportamento do setor privado, mas a situação cria oportunidades de reverter tendências de desaceleração dos últimos anos, segundo um economista do Banco Mundial

Aproveitar essa oportunidade, sustenta Pedro Martins, implica investir mais no setor produtivo: agricultura, manufatura e turismo e em capital humano ajudando a “converter a despesa pública num movimento mais endógeno do setor privado para sustentar o crescimento”.

Pedro Martins falava à Lusa no dia em que Timor-Leste termina três meses de estado de emergência devido à covid-19 e quando, lentamente, se começa a sentir alguma retoma na atividade económica.

Depois de meses com muitos negócios fechados, praticamente sem investimento público, dificuldades nas redes nacionais e internacionais de comércio, falta de liquidez de empresas, Timor-Leste acaba por sentir mais impactos económicos do que propriamente de saúde, em termos da covid-19.

Agora, sublinha, importa trabalhar para “reverter a tendência que se verifica há vários anos”, com uma desaceleração do crescimento económico acentuada desde 2008, agravada nos últimos anos pela incerteza política.

“Investir no tecido produtivo é crucial. Temos vindo a notar, por exemplo, que muitos dos empréstimos têm ido para indivíduos, mas pouco para os setores produtivos. As percentagens de crédito para a agricultura, manufatura e turismo são muito baixas”, sublinha o economista.

“Mesmo quando a razão de choque desaparece, alguns dos impactos persistem. As empresas fecharam ou despediram trabalhadores e depois a retoma da atividade e o recrutamento é lento”, frisou Pedro Martins.

“Mesmo os padrões de consumo podem mudar, especialmente a nível da classe média”, explicou.

Depois de uma crise, as empresas podem demorar a retomar relações de confiança com fornecedores e com a banca, sendo que o país é afetado, também, pelo impacto nas cadeias internacionais de fornecimento.

Avaliar com exatidão a situação económica do país, onde predomina o setor informal e onde escasseiam dados atualizadas, tanto a nível micro como macroeconómico, não é fácil.

Ainda assim os dados disponíveis mostram que mesmo antes da pandemia chegar a Timor-Leste, a economia nacional já se estava a ressentir das incertezas políticas de 2017 e 2018, com um recuo significativo no PIB e reduções, por exemplo, a nível de investimento privado, um indicador de confiança na economia.

Pedro Martins nota que ainda que tenha havido uma recuperação em 2019, esse comportamento se deveu em grande parte ao consumo de famílias – em parte sustentada por um aumento do crédito pessoal, por exemplo -, e à recuperação do consumo público.

“Mas em termos de investimento privado, mesmo em 2019 não se notou uma grande melhoria”, considerou.

“Quando a pandemia se alastrou pelo mundo e as medidas foram tomadas, a economia timorense não estava nas melhores condições para responder, especialmente devido ao retorno da instabilidade política, à aplicação de novo do regime duodecimal e à recuperação ainda débil de 2019”, sublinha.

Depois de um primeiro período em que Timor-Leste registou uma redução drástica na mobilidade, com lojas fechadas, empresas paradas e cidadãos em casa ou de regresso aos seus municípios de origem, a normalidade do movimento tem vindo a ser retomada.

Isso é o caso, especialmente, no terceiro e último período do estado de emergência, que hoje termina, com a capital Díli a ver o regresso do trânsito e a reabertura da quase totalidade das empresas.

Pedro Martins nota, por isso, que em termos de mobilidade e do que isso representa como sinal da atividade económica, o impacto no caso de Timor-Leste é “bastante forte” no início do período com “uma forte queda de toda a atividade económica” e menor nos meses seguintes.

Outra questão a considerar no atual cenário tem a ver com as fragilidades da economia privada timorense, dependente em grande parte do setor informal e não produtivo e, no caso das empresas, nos setores de construção e de serviços.

Mesmo antes da pandemia muitas empresas viviam já com dificuldades de liquidez, com atrasos nos pagamentos do setor público, por exemplo, ou uma redução significativa de projetos, no setor da construção especialmente.

Dada a natureza da economia nacional, com grande parte dos bens de consumo a serem importados, a fraqueza financeira das empresas – que têm que pagar os bens que consomem o revendem muitos antes de os rentabilizarem – condiciona o necessário fluxo de caixa.

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