Cabinda: “Pronto a negociar a paz – em Portugal, Luanda, no céu ou no inferno”, diz líder da FLEC-FAC

por Paulo Rego
Paulo Rego

Em entrevista ao PLATAFORMA, o presidente da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) apela a negociações a paz: “Em Portugal, em Luanda, no céu ou no inferno, onde Angola quiser”. Contudo, Emmanuel Nzita lamenta não ter tido resposta aos vários recados enviados ao Presidente angolano, João Lourenço; mas também a Portugal e às Nações Unidas. O preço da paz, explica, é um referendo. “O povo de Cabinda reivindica a sua autodeterminação”.

Emmanuel Nzita revela ter mantido “conversas informais” com todos os partidos angolanos, pois entende que “o problema deve ser tratado ao nível da Assembleia da República”. Mas nunca é claro em relação aos contactos com o MPLA, deixando no ar a ideia de que as conversas com membros do partido do Governo são feitas sem ninguém assumir o contacto.

Em relação ao Presidente angolano, já é mais assertivo. Lembra que João Lourenço prometeu mudar tudo o que estava mal no país e revela que enviou vários recados ao Palácio em Luanda, no sentido de se iniciarem negociações. Mas nunca teve resposta. Na entrevista ao PLATAFORMA, Emmanuel Nzita lança o apelo: “Estou pronto a negociar a paz em Cabinda”.

Depois do apelo da secretário-geral da ONU, António Guterres, para a suspensão de todos os conflitos no mundo, no contexto da crise pandémica, a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda resolveu decretar, “unilateralmente, o cessar fogo”, recorda Nzita, acusando o Governo angolano de ter “violado” essa trégua “no dia 4 de Junho”, quando “invadiu o território controlado pela FLEC, a partir da República Democrática do Congo”, que faz fronteira com o enclave.

Essa é a explicação de Emmanuel Nzita para o regresso dos confrontos armados, a partir dessa altura, como descreve ao PLATAFORMA o tenente-general Afonso Zao, que comanda tropas na FLEC no terreno. No último confronto, “do nosso lado, morreram dois; do lado angolano não sei, mas os corpos ficaram lá”.

Insistindo na tese segundo a qual Cabinda é um protetorado de Portugal – tratado de 1885 e acordos de Alvor – para que a paz seja possível, Emmanuel Nzita exige um referendo, “seja pela independência, pela autodeterminação, o que for… Não podem é continuar a dizer Cabinda pertence a Angola; quem tem de decidir é o povo de Cabinda”. Essa é a exigência que, do ponto de vista da FLEC, pode levar a paz a Cabinda.

Na entrevista ao PlATAFORMA, Emmanuel Nzinga critica ainda a posição de Portugal – ou a falta dela – por não se comprometer com um processo negocial, apesar de ter “a maior carta na mão”, ao nível diplomático. Visa também António Guterres que, até por ser português, “conhece bem a situação” de Cabinda, mas “não faz nada pelos refugiados”, que “estão ao abandono, sem nada nem nenhuma ajuda”.

Leia mais sobre Cabinda em:

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