Luta continua em Timor

por Paulo Rego
Paulo Rego

Xanana Gusmão perde poder para Taur Matan Ruak, que prepara novo orçamento, num país gerido por duodécimos. A tensão entre velhos companheiros abala o equilíbrio no Exército; a Austrália alerta contra a  “ameaça” que vem da China… E Ramos Horta, o eterno diplomata mundo, ataca a ideia de se criminalizar a difamação, em nome da liberdade de expressão. A luta continua em Timor.

Na pele de ministro de Estado, Xanana forçou eleições antecipadas, levando mesmo Matan Ruak a admitir a renúncia ao cargo de primeiro-ministro, em Fevereiro último, sentindo falta de apoio parlamentar. Contudo, a pandemia – e o Estado de Emergência – tudo mudou. O Partido Democrata e o KHUNTO trocaram o apoio ao Congresso Nacional de Reconstrução (CNRT) e juntaram-se à Fretilin, criando uma coligação de 41 deputados, em 65, liderada pela Fretilin.

O ambiente é de tal forma quente que duas deputadas entraram mesmo em confronto físico, em pleno parlamento, numa discussão sobre a língua portuguesa.

Xanana vira costas ao Governo, após ter invertido os tradicionais orçamentos de pobreza, com a influência da Fretilin a proteger, anos a fio, a “sustentabilidade” do fundo soberano, criado com as receitas do petróleo – 16 mil milhões de dólares.

O recente investimento em infra-estruturas, empurrado por Xanana, multiplicou-se: 650 milhões de dólares na compra de participações do Greater Sunrise (petróleo e gás); novo aeroporto, instalações portuárias, rodovias … e o mega-projeto da refinaria Tasi Mane, velho sonho de Mari Alkatiri. Contudo, a petrolífera australiana Woodside Petroleum, apoiada por Camberra, recusa refinar o crude em Timor, insistindo em fazê-lo em Darwin. E a Fretilin aponta o dedo à “extravagância”.

Entretanto, Pequim dá sinais de poder financiar a refinaria e os oleodutos subaquáticos que permitiriam canalizar o crude do Greater Sunrise para solo timorense. E é oficial a proposta de Pequim para modernizar o Exército timorense. O senador australiano, Rex Patrick, lançou em Camberra o alerta contra “o perigo” de Pequim vir a estabelecer em Timor-Leste uma base militar.

Numa terra farta em rumores – e uma realpolitik externa incontornável – o Governo quer agora criminalizar a difamação. Mas enfrenta outra voz desavinda. Ramos Horta ergue a voz pela liberdade de expressão. A luta continua.

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