Assessoria: muito, pouco ou nada?

por Guilherme Rego
Gonçalo Lobo Pinheiro*

Cheguei a Macau em 2010. Se há coisa que sempre ouvi da boca dos jornalistas que trabalham no território foi queixarem-se dos assessores e porta-vozes dos diversos organismos que compõem o Governo da RAEM.

Nestes 10 anos, também senti na pele, as respostas absurdas, quando as há, ou então os tempos intermináveis de espera para muito pouco ou quase nada no final das contas. Já para não dizer quando perguntamos alhos e nos respondem bugalhos, ou simplesmente não querem saber, porque talvez dê trabalho trabalhar.

Salvaguardando as eventuais diferenças culturais e percepções diferentes da mesma realidade, o que é afinal ser assessor de imprensa em Macau?

Uma das grandes premissas da assessoria de imprensa é a de criar relações de extrema confiança com os diversos jornalistas e meios de comunicação. Começam mal os assessores e porta-vozes da nossa praça. Falham logo aí redondamente. Desconheço, pelo menos na imprensa em língua portuguesa e inglesa tais relações sólidas e recíprocas. Se as há, e não me falem em duas ou três, gostava de saber onde estão. Assumirei mea-culpa, e este não é um problema exclusivo de Macau.

Tudo continua na mesma. Nem digo que continua pior. Continua na mesma, pelo menos. Burocracias chatas, procedimentos bacocos, respostas inócuas

Portanto, o mal vem logo de raiz. Sem confiança mútua não há como trabalhar. Nem o assessorado consegue apresentar a sua mensagem, nem o recetor entende o que se pretende divulgar. E isto nada tem a ver com traduções e trabalhos de intérprete. Essa é uma batalha, também ela perdida. Contudo, assumo, não sei falar chinês. Por isso, muito respeito o trabalho feito por quem, com maior ou menor dificuldade, fala português, chinês ou inglês e tanta fazer passar a mensagem.

Voltando à assessoria de imprensa. De um modo geral, os assessores são antigos jornalistas ou relações públicas. Em Macau, a coisa também passa um pouco por aí. Sendo que, na maioria das vezes (e principalmente nas vezes mais importantes, pelo menos na ótica do jornalista que recorre aos préstimos do assessor para saber alguma informação), esse background no mundo dos média parece servir de pouco. Ou servirá apenas para o que lhes convém. Certamente para fazer tudo que não seja beneficiar o jornalismo. Sabem aquele papel de conselheiros? É. Surpreendentemente, nem para quem lhes paga são bons.

Passados 10 anos. Tudo continua na mesma. Nem digo que continua pior. Continua na mesma, pelo menos. Burocracias chatas, procedimentos bacocos, respostas inócuas. Porque se outro dos papéis destes profissionais da comunicação é zelar pelos interesses do assessorado, das duas uma: ou os interesses estão desajustados e enviesados, ou simplesmente assessorar custa muito, porque, pelos constantes atropelos ao trabalho jornalístico, não se vê que assessoria se possa estar a fazer. É que nem para o disparate atentam.

*Editor do canal português do Plataforma

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