O historiador francês Michel Cahen afirmou que a Renamo, principal partido da oposição moçambicana, precisa de repensar a sua atuação e não se limitar a mobilizar apoios em tempo de escrutínio, para não voltar a perder eleições
Michel Cahen defendeu uma maior acutilância da Resistência Nacional Moçambique (Renamo) na vida política e social do país, quando falava durante uma videoconferência sobre o tema “A Renamo pós-Dhlakama”.
“A Renamo e toda a oposição precisam de se reconfigurar, para não chegarem às eleições gerais de 2020 enfraquecidos e perderem de novo”, defendeu Cahen.
O principal partido da oposição deve manter uma atuação permanente na vida política e social das comunidades, exprimindo o sentimento das populações e apresentando políticas alternativas.
“A Renamo deve funcionar também fora dos períodos eleitorais e assumir-se como uma espécie de sindicato das populações que contestam o clientelismo e os abusos da Frelimo”, frisou Michel Cahen.
Uma contestação forte à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder há 45 anos, passa também por uma mudança geracional na liderança da oposição, porque a elite do poder na Renamo falhou no objetivo de ascender à liderança do país.
“Tem de haver uma reconfiguração geracional na oposição, que permita o surgimento de novas ideias, porque a atual geração não conseguiu contestar a hegemonia da Frelimo”, considerou Michel Cahen.
Michel Cahen avançou que se o principal partido da oposição se conformar com um papel secundário na política moçambicana vai acabar por se tornar irrelevante e provocar um distanciamento em relação à sua base social e ao eleitorado urbano desencantado com a Frelimo.
O historiador classificou o atual líder da Renamo, Ossufo Momade, como “um moderado”, assinalando que aceitou o estatuto legal de líder da oposição moçambicana, que foi rejeitado pelo seu antecessor no partido, Afonso Dhlakama, frisou.
Por outro lado, Momade assinou no ano passado o Acordo de Paz e Cessação das Hostilidades Militares com o Presidente da República, Filipe Nyusi, e comprometeu-se com o Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado da Renamo, referiu ainda aquele historiador.
O facto de Ossufo Momade ser “um militar urbano”, que foi um comandante importante da guerrilha da Renamo durante a guerra civil que terminou em 1992 e depois abandonou as matas para ir viver na capital do país, dá-lhe um cunho menos radical do que Afonso Dhlakama.
“Afonso Dhlakama conseguia ser um líder político da cidade e um militar do mato”, comparou.
Para aquele historiador, Afonso Dhlakama, que morreu em 2018, após cerca de 40 anos na liderança da Renamo, dirigia a organização como dono e não apenas como presidente, o que explica a ausência de contestação à sua liderança.
“Afonso Dhlakama nunca quis um número dois na liderança da Renamo, ele não era apenas o presidente do partido, era também dono”, defendeu Michel Cahen.
A Renamo perdeu todas as seis eleições gerais realizadas na história do multipartidarismo moçambicano contra a Frelimo.