O exercício da partilha é o caminho para a sobrevivência da União Europeia

por Guilherme Rego
Isabel Meirelles*

Nesta crise que atualmente vivemos, podemos considerar a existência de três fases que temos de considerar: a Europa antes da Covid-19, a Europa durante a pandemia e a Europa após o novo coronavírus.

Na Europa antes da Covid-19, tivemos a crise financeira de 2008, com o problema das dívidas soberanas, que culminou em resgastes de quatro Países, a saber, Portugal, Irlanda, Grécia, Portugal e Chipre, sem esquecer a ajuda europeia a Espanha para reestruturar a sua banca.

Foi a fase da Europa da austeridade, vocábulo hoje maldito, substituído pelo termo dor, mais sentimentalista e emocional, utilizado agora pelo Primeiro-Ministro que, e cito, esta crise está a doer e vai doer, e é que apenas um eufemismo enganoso e propagandístico da banida austeridade.

Portugal saiu desta fase, com um enorme esforço das famílias e das empresas, do programa de assistência financeira sem recorrer a qualquer programa cautelar.

Foram tempos difíceis, e nessa altura, a solidariedade europeia titubeou. Também a solidariedade política interna em Portugal, entre os grandes partidos, nem sempre existiu.

É bom que recordemos que foi um Governo liderado pelo PSD, com o CDS, que tirou Portugal do charco.

Foram cometidos erros, certamente que sim, mas o nosso País saiu com a cabeça erguida desse período. 

A segunda fase, é aquela que estamos a viver. A fase dessa doença provocada por um vírus com uma capacidade de propagação nunca vista, numa pandemia que entrou pela Europa, e fez dela o seu epicentro.

Esta crise está a doer e vai doer, e é que apenas um eufemismo enganoso e propagandístico da banida austeridade

A globalização já existia antes, com milhares de agentes patogénicos que podem rapidamente disseminar-se, mas foi o novo coronavírus que acabou por semear este tempo de paralisia.

Nunca vimos tantas cidades em silêncio.

Nunca vimos tantas pessoas confinadas ao seu espaço familiar.

Nunca vimos um recolher obrigatório em quase toda a Europa e no mundo.

Esta segunda fase é ainda marcada pelo sofrimento, até porque a maioria das mortes são de europeus.

O vírus expôs apenas as fragilidades de uma União Europeia com muitos membros, mas com pouco tronco e com falta de cabeça.

Porque a solidariedade também é uma questão de cabeça!

Essa solidariedade conheceu apenas um primeiro passo, no acordo obtido no Eurogrupo em 9 de abril.

Foi um acordo do mínimo denominador comum, daí a necessidade de respostas mais amplas como a aprovação das propostas da Comissão que têm de ser adotadas por unanimidade pelo Conselho Europeu, o que se afigura uma tarefa ciclópica.

Isto porque as centenas de milhares de milhões de euros anunciados pelo Eurogrupo são empréstimos, os quais replicam, por vezes, medidas já anunciadas pela Comissão Europeia.

As medidas aprovadas acrescentam flexibilidade, engenharia financeira e reafectações, mas quase não há “fresh money”, dinheiro adicional.

O programa SURE, por exemplo, já foi anunciado duas vezes, uma pela Comissão e outra pelo Eurogrupo, mas o valor do empréstimo é sempre o mesmo!

Na resposta à crise, a Comissão Europeia toma boas decisões, algumas originais, como as recentemente apresentadas, o Parlamento Europeu mostra ambição, mas Conselho é um desastre!

Os Chefes de Estado e de Governo desconfiam uns dos outros, permanecem divididos e tomam decisões tímidas, sempre à última hora.

Por isso, o Conselho contamina sistematicamente o Eurogrupo.

Está na hora de a União Europeia dar aos Estados mais atingidos por esta crise soluções, de estender um gesto de generosidade semelhante aos que os credores da Segunda Guerra deram à Alemanha.

O próximo Conselho Europeué decisivo para o futuro da União Europeia e, em particular, da zona euro.

Mais do que nunca, na resposta a esta crise, joga-se o futuro da Europa.

E quem irá responder não são os líderes europeus que até agora têm feito a sua parte

Quem irá responder são os Chefes de Estado e de Governo, que quando se sentam a uma mesa, devem pensar primeiramente no interesse comum europeu. Portanto, se o acordo falhar será por responsabilidade dos dirigentes nacionais.

Até porque não vamos poder continuar a ter empréstimos sobre empréstimos! Todos sabemos no que dá um carrossel de dívida que, ao contrário do que disse um ex-Primeiro-Ministro socialista, se pagam sempre de alguma forma, por vezes muito pungente.

O povo pode não saber de Finanças, mas sabe o que é pagar impostos, ou seja, sabe o que é mais austeridade.

Neste próximo Conselho Europeu precisamos de uma União Europeia com memória que pense na terceira fase, a da recuperação e da reconstrução, que vai ser uma etapa longa, de vários invernos.

Uma Europa que saiba sair da maior crise das nossas vidas.

Uma Europa que, saiba escolher entre Renascimento e Declínio.

*Vice-presidente e deputada do Partido Social Democrata (PSD) à Assembleia da República Portuguesa

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!