Necessidades especiais para crianças especiais

por Filipa Rodrigues
Carol Law

As escolas dizem sempre: Ele [o filho] não consegue acompanhar o ritmo de aprendizagem. Tem de se esforçar mais”, lamenta a mãe de um aluno do ensino especial. Com a chegada da pandemia e consequente fecho das escolas, agravou-se o atraso no processo de aprendizagem para estes alunos.

Para a encarregada de educação, de apelido Lam, “o que mais custa é observar algum atraso ao nível linguístico e ter de estudar sozinho para tentar acompanhar os colegas”.

“Está sempre a ser deitado abaixo. Recebemos uma carta do professor a falar sobre alguns dos problemas que enfrenta por não conseguir acompanhar as aulas. Isso veio agravar a relação com o pai”, confessa a mãe. 

O filho, ainda na escola primária, é um aluno do ensino especial com características de DDAH (Distúrbio de Défice de Atenção e Hiperatividade) e, segundo Lam, crescer numa família que apenas fala chinês fez com que fosse ainda mais difícil acompanhar as aulas em português. Com a pandemia, o apoio escolar para o filho foi adiado (interrompido) e só em abril os pais foram informados de que poderia também estudar através de vídeo. “São três meses de atraso. Esse tempo poderá ter um grande impacto na ligação dele à cultura e língua portuguesas”, admite.

Lam não é a única nesta situação. Já foram anteriormente apresentadas queixas de encarregados de educação de alunos de escolas portuguesas sobre apoio inadequado a estudantes com necessidades especiais. Em declarações ao PLATAFOMA Nicole Chan, presidente da Associação de Autismo de Macau, esclarece que muitos pais temem que as capacidades dos filhos se tenham deteriorado durante o tempo prolongado passado em casa no período da pandemia. Embora muitas escolas tenham já reiniciado as aulas, o ensino especial continua parado. Mas estas crianças também têm de continuar a ir às aulas. 

“No início da pandemia houve muita incerteza e as crianças são facilmente influenciadas pelas emoções dos adultos que as rodeiam. Quando os pais começaram a regressar ao trabalho, as escolas ainda não tinham reiniciado as aulas e as crianças ainda estavam dependentes da família durante todo o dia. Também queriam voltar ao dia-a-dia normal, mas não conseguiram”, reconhece.

Reconhecer as necessidades 
Lam lamenta também que devido à pandemia algumas das atividades físicas para estes alunos foram suspensas, contribuindo, designadamente para ganharem peso.

“Na escola pode correr à vontade e tem vários sítios onde fazer exercício, e quanto mais exercício fizer, maior a capacidade de concentração. Esta é uma das características destas crianças. Porém, sem esta forma de ´gastar energia´ nem consegue dormir bem”, diz.

Assinala ainda que uma das atividades mais comuns passa pelas idas aos parques públicos para se exercitarem, mas também estes estiveram encerrados.

“Lembrei-me de uma solução – ir à praia Cheoc Van e Long Chao Kok. Ali há espaço para fazer alguns exercícios e brincadeiras, importantes para encontrar o seu equilíbrio”, esclarece.

A encarregada de educação defende também um horário escolar mais flexível, uma vez que no caso dos alunos do ensino especial há uma evolução diferenciada entre os estudantes. “Todos evoluímos de forma diferente, é normal. A pandemia alertou-nos ainda mais para isso – todos temos um progresso diferente”.

Para Nicole Chan, muitas famílias têm problemas financeiros e dificuldades em controlar as emoções das crianças. Por isso incentiva os encarregados de educação a contactarem o Instituto de Ação Social quando confrontados com esses problemas. Em alguns casos, a associação indica instituições específicas de ajuda emocional a crianças e familiares. Coopera ainda com comerciantes que oferecem alguns descontos a estas famílias, além de encorajar os pais a educarem os filhos de forma independente, disponibilizando para isso guias com tópicos como compreensão e tolerância.

Mais Serviços, DSEJ
A Direção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em resposta ao PLATAFORMA, esclarece que o Centro de Apoio Psico-Pedagógico e Ensino Especial reiniciou atividade no final de fevereiro, incluindo consultas de ensino especial, avaliação de posicionamento educativo, tratamento e seguimento de casos, além de serviços adicionais de avaliação para compensar os atrasos durante a pandemia. Com a recente estabilização da situação pandémica, o centro retomou no passado mês de maio as atividades de terapia da fala e treino em grupo, como forma de apoio aos pais. Seguindo as medidas de controlo da epidemia, o número de aulas será aumentado para que cada turma passe, de um máximo de 10 grupos (de pais e filhos) para apenas quatro, reduzindo o número de pessoas juntas e consequentemente o risco de propagação do vírus. 

A DSEJ afirma ainda que após a estabilização da situação epidémica em Macau, as escolas do ensino básico retomaram as aulas de forma faseada a 4 de maio. Para mitigar alguma da pressão sobre os encarregados de educação de crianças do ensino especial, nove escolas deste ensino e pequenas turmas em escolas comuns reiniciaram também a atividade no dia 11 de maio, algumas delas oferecendo serviços de ajuda a alunos com problemas em casa. Durante a pandemia, a DSEJ juntamente com nove organizações de aconselhamento escolar criou uma linha direta de apoio para fornecer, se necessário, a alunos e pais, apoio emocional e serviços de aconselhamento. 

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