“Se um livro sobre o falhanço não vende, pode considerar-se um sucesso?”

por Guilherme Rego
Hugo Carvalho*

Autores atrás de autores, entre académicos, filósofos, cientistas e políticos, têm escrito sobre um futuro em que vivemos mais anos (talvez para sempre), em que médicos de um país operam pacientes de outro comandando robôs, ou em que os carros conduzem sozinhos.

O título (uma das célebres piadas de Seinfeld), vem a propósito desta transformação que ganha tanta força no discurso, quanta perde na ação, sempre que choca com o imobilismo crónico das instituições, cujas cúpulas têm dificuldade em mudar o que “sempre funcionou assim…”.

Nos últimos meses, o que “sempre foi assim” teve que ser de outra maneira e, sem grandes surpresas, na maioria dos casos funcionou! Ensinou-se e aprendeu-se, produziu-se e vendeu-se, debateu-se e decidiu-se, sempre à distância. Não foi preciso estar a olhar para o quadro da sala de aula, não foi preciso estar 8 horas por dia no escritório, não foi preciso ir de avião a Bruxelas para ter uma ou duas reuniões.

Da mesma forma, estarão em risco as empresas com menos presença digital, e as que tiverem menos capacidade de transformação.

Não é preciso. Não precisamos de trabalhar todos no mesmo sítio, ao mesmo tempo, porque, se assim for, não precisamos de ter as cidades com e sem oportunidades, não precisamos de ter horas de ponta, transportes públicos sobre-lotados, falta de lugar nos infantários e preços incomportáveis no arrendamento e compra de casas. Não precisamos de escolher entre o emprego e a qualidade de vida, quando podemos equilibrar os dois.

Com novas crises chegam sempre novas desigualdades: teremos de encarar uma nova fragilidade do mercado de trabalho, porque o fator diferenciador nos empregos vai começar a estar mais do lado das competências e menos do lado do vínculo contratual. Serão mais precárias as pessoas sem competências do que as pessoas que tem um “emprego para a vida”. Da mesma forma, estarão em risco as empresas com menos presença digital, e as que tiverem menos capacidade de transformação.

A diplomacia terá que inaugurar um novo capítulo: o digital. Servir os Portugueses de cá e os de lá, intensificando a transmissão de competências; apoiando todas empresas no seu processo de digitalização, aumentado a presença portuguesa no mercado global e digital; transformando o Estado para que esteja cada vez mais à distância de um “click” para todos. Não precisamos de ficar isolados para trás quando a tecnologia nos permite um esforço conjunto de recuperação e superação deste desafio. Assim queiram as instituições. Assim consigam as empresas. Assim possam os portugueses.

* Deputado do Partido Social Democrata à Assembleia da República Portuguesa

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