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Instinto versus aprendizagem

João Melo*

“Se conseguíssemos pôr todos os membros da ONU na Apollo a olhar para a Terra, talvez eles aprendessem a entender-se – William Anders, astronauta da Apollo 8

As maiores preocupações da humanidade nunca mudaram em milhões de anos: reprodução, dominação, autodefesa, fome, medo… Experiências científicas provam que descargas eléctricas no sistema límbico produzem efeitos semelhantes aos das psicoses, ou aos produzidos pelas drogas alucinogénicas. Alterações na glândula pituitária provocam alterações nos estados de espírito que alternam entre o júbilo e o temor. 

Algumas potências mundiais da actualidade são governadas pelo mesmo tipo de pessoas que governaram na antiguidade, os “límbicos”, inebriados de júbilo e temor, baseando as suas decisões em “fézadas”. Fazem tábua rasa da História e da Ciência, preferindo guiar-se por palpites pessoais, crer em mitos ou deuses. Não têm respeito pela Terra, pelos outros, desprezam o ecossistema e a diversidade, como poderiam levar a sério uma coisa que só faz estragos na economia e ninguém vê? Que maçada! Note-se que nas democracias estes líderes chegam ao poder com os votos da maioria da população, o que diz muito sobre nós próprios. 

Em 2018 Trump afirmou que duvidava das alterações climáticas porque “tinha um instinto natural para a ciência”, e que o teria herdado de um tio que dava aulas no MIT. Já em plena pandemia, ao estilo “Dr. Mengele”, lançou propostas aberrantes para curar infectados, concluindo que “eu não sou médico, mas sou uma pessoa com um bom instinto”. Bolsonaro acreditava que o covid19 era uma “gripezinha”, já demitiu dois ministros da saúde e agora não tem nenhum. Dado que o número de mortos continua assustador, resolveu cortar o mal pela raiz: acabar com a sua divulgação…

Conhecimento é diferente de informação, e ter acesso a muita não significa saber, sobretudo quando o universo gira à volta do sujeito. Porque a realidade resulta da percepção sensorial do tempo e do espaço, o confinamento contribuiu para encolher o campo receptivo. Sem o filtro do neocórtex não somos tão diferentes dos animais, a dimensão do mundo vai pouco além do nosso umbigo, aquilo que é exterior a nós é uma fantasia, uma realidade alternativa. Por isso um burro tende a ver os outros como ele próprio é. A inteligência alheia, as dúvidas que ela lhe coloca ofendem-no mais que um insulto e, caramba, como é imensa a capacidade do burro se ofender.

*Músico e Embaixador do Plataforma

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