Projecto de gás vale tanto quanto a economia do país

por Guilherme Rego
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O projeto de gás natural liquefeito (GNL) da Total SA em Moçambique já custou, até ao momento, cerca de 15 mil milhões de dólares norte-americanos – aproximadamente o mesmo valor da economia daquele país africano -, mesmo quando a pandemia de Covid-19 ameaça o sistema financeiro global, adianta a Bloomberg.

As empresas de energia têm lutado nos últimos meses, contra os preços de tudo, de petróleo ao gás natural, muito por culpa do enfraquecimento da demanda em tempos de pandemia do novo coronavírus. Embora o petróleo tenha retornado parcialmente, o mercado de gás continua a ser atingido por um excesso de oferta. Os credores ainda apoiam o GNL de Moçambique da Total, apostando na localização do país no sul da África para facilitar a exportação e o grande tamanho dos depósitos de gás vinculados ao projeto.

A empresa gastou mais 600 milhões de dólares do que o inicialmente planeado, com preços ao nível dos tempos pré-Covid-19, de acordo com Katan Hirachand, diretor da Societe Generale SA, que assessorou o financiamento. A Total ainda não se manifestou.

“Ter excessos neste ambiente é realmente fenomenal e é uma prova da força do projeto”, disse ainda Katan Hirachand, acrescentando que o financiamento deve ser assinado ainda este mês.

O projeto de 23 mil milhões já leva anos, com a Anadarko Petroleum Corp. a descobrir o primeiro grande depósito de gás offshore há mais de uma década. A empresa trabalhou com diversas pedras no sapato e inúmeras oscilações de preços para garantir compradores a longo prazo em todo o mundo. A Occidental Petroleum Corp. comprou a Anadarko e vendeu o projeto à Total no ano passado.

O GNL de Moçambique e outros que estão a ser desenvolvidos pela Exxon Mobil Corp. e Eni SpA são cruciais para a nação africana, uma das mais pobres do mundo. O Banco Mundial estima que o seu produto interno bruto seja 14,7 mil milhões de dólares. O país no ano passado esperava receber 95 mil milhões em receitas, durante 25 anos, com três projetos.

A sua localização, a meio caminho entre a Europa e a Ásia, é uma grande vantagem, dando-lhes acesso aos grandes mercados. Além disso, os campos de gás que fornecerão os projetos são tão grandes que “não se pode ignorar as empresas multinacionais de energia”, afirmou Douglas Mason, associado do consultor Eunomix. “Com mais de 150 biliões de pés cúbicos de reservas, essas são as bases para uma nova jurisdição energética extremamente significativa”, acrescentou.

O empreendimento de Rovuma LNG da Exxon é adjacente ao da Total. Juntos, os dois projetos poderiam finalmente ter capacidade para exportar mais de 90 milhões de toneladas de GNL anualmente e processar gás para uso local, de acordo com uma apresentação do Standard Bank Group Ltd., que está envolvido no projeto de financiamento da Total. A Eni aprovou o seu projeto de 7 mil milhões de dólares em 2017.

O Standard Bank estima que diversos outros projetos, incluindo aqueles que convertem gás em líquidos e usinas de fertilizantes, possam ser construídos para beneficiar-se do suprimento de gás. Tudo isso, juntamente com as instalações de liquefação de gás, pode envolver um total de 125 mil milhões de dólares em investimentos.

Cabo Delgado e Covid-19: os grandes inimigos

Ainda assim, Moçambique enfrenta grandes riscos. Ataques terroristas já mataram mais de 1100 pessoas precisamente na região em torno do projeto da Total. A empresa também foi forçada a retardar o início da construção do projeto depois que o local se tornou o epicentro do primeiro surto de SARS-CoV-2 do país.

“O risco de segurança do projeto não foi levado em consideração adequadamente”, assumiu Mason, da Eunomix. “Moçambique é um país frágil, com fraca capacidade institucional e múltiplas falhas ao nível sócio-económico, com diversos conflitos e muita instabilidade, e as empresas que investem no setor não demonstraram compreender isso”, desabafou Mason, que citou como exemplo a baixa de 3 mil milhões de dólares em ativos de carvão do grupo Rio Tinto, na tentativa de exportar a commodity.

A queda nos preços do petróleo e gás também obrigou empresas como a Exxon a reduzir gastos e redefinir as prioridades dos projetos. A decisão final de investimento para a zona do Rovuma foi adiada.

No entanto, o sucesso financeiro da Total “torna provável o eventual FID da Exxon, embora, muito provavelmente, a empresa francesa o tenha adiado até 2021 ou mais”, afirmou Robert Besseling, diretor executivo da empresa de consultoria EXX Africa.

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