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Golfinhos, uma mistura de emoções

Johnson Chao

Na passada semana, dia 12, foi observado um golfinho a nadar nas águas da baía de Macau, entre as pontes Nobre e Carvalho e da Amizade. Dois dias depois, a 14, um primeiro golfinho-corcunda-indopacífico foi encontrado morto na zona da ilha Coloane. No dia seguinte, 15 de maio, um segundo cadáver de um golfinho foi encontrado morto na zona da Areia Preta. A Sociedade de Conservação de Golfinhos de Hong Kong espera que o Governo de Macau avance para a criação de uma área protegida desta espécie de cetáceos ameaçada.

Para Viena Mak, representante da Sociedade de Conservação de Golfinhos de Hong Kong, o aparecimento de golfinhos mortos em Macau tem sido um acontecimento ocasional nos anos recentes. Acrescentou, em declarações ao PLATAFORMA, que o número golfinhos encontrados mortos nas águas de Macau não tem sofrido grandes alterações, fixando-se entre uma a duas mortes por ano, em média. 

Viena Mak manifestou esperança em que o Governo de Macau utilize os 85 quilómetros quadrados de área marítima sob sua jurisdição para criar uma área protegida para esta espécie de golfinhos, subordinada ao conceito “primeiro conservar, depois desenvolver”.

O primeiro passo é a investigação, o estudo das águas onde se encontra esta espécie de golfinhos e, em seguida, a criação de uma zona protegida, impondo, designadamente limites de velocidade e ruído para os barcos.

O golfinho-corcunda-indopacífico está classificado como um animal protegido de Classe I e pode frequentemente observado no delta do Rio das Pérolas. 

O relatório do Instituto de Investigação de Animais Marítimos do Mar do Sul da China, com base numa sondagem de 2017/2018, indica que nas águas do Delta do Rio das Pérolas foram encontrados 945 golfinhos-corcunda-indopacífico.

Um ano depois, uma nova sondagem apontou que aquele número tinha sofrido uma quebra acentuada, na ordem dos 30 por cento, para 641 golfinhos. 

Viena Mak não é de excluir a possibilidade de esta descida estar associada ao impacto causado, nomeadamente pelos trabalhos de construção da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, pela recuperação de terras, pela qualidade das águas no delta ou mesmo pela atividade de pesca. “Existem vários projetos de recuperação de terras a decorrer perto de Macau, além da construção do Parque Eólico Costeiro de Guishan e da Ponte Zhongshan-Shenzhen. Hengqin está também a desenvolver planos de recuperação de terras e existe um tráfego constante de barcos a alta velocidade que viajam entre as costas de várias cidades do delta. Tudo projetos cujo ruído tem um impacto direto na vida destes golfinhos”, assinalou a especialista.

Segundo dados estatísticos disponíveis, desde 2012 até à atualidade foram encontrados 12 golfinhos mortos nas águas/costa de Macau, incluindo da espécie golfinho-corcunda-indopacífico e boto-do-índico. 

Viena Mak esclareceu que entre os animais mortos encontravam-se crias, podendo essa situação ter algum impacto no número da população de golfinhos da região, embora tenha ressalvado ser necessário mais investigações nesse sentido. 

Alertou para o mais recente relatório de “Avaliação do Impacto Ambiental da construção do túnel subaquático lateral à Ponte Governador Nobre de Carvalho (a quinta ligação Macau-Taipa)” publicada em janeiro passado, no qual é mencionada a situação dos golfinhos da região, sem todavia disponibilizar quaisquer dados que comprovem que o projeto não terá impacto sobre a subsistência destas espécies. 

Outros relatórios de impacto ambiental mostram que nas águas de Macau os golfinhos-corcunda-indopacífico estão principalmente distribuídos a Este e Sul do aeroporto local, com os dados disponíveis a indicarem que estes parecem estar maioritariamente à procura de comida. A Sul da ilha de Coloane e a Este da Ponte da Amizade o número de golfinhos-corcunda-indopacífico registados é relativamente baixo. Para esta espécie de golfinhos é altamente importante a ecologia e o ambiente sustentável das águas de Macau. Numa investigação desenvolvida entre 2016 e 2019, ao longo de 88 trajetos nas águas de Macau, foram encontrados 349 grupos de golfinhos-corcunda-indopacífico, com um total de 1.471 membros da espécie.

Viena Mak recordou que há 20 anos o Governo de Hong Kong lançou um plano de proteção de golfinhos, centrado na defesa do respetivo habitat nas águas da região e no delta do rio das Pérolas, “em prol da educação, investigação, vigilância e da biodiversidade marítima”.

Ainda recentemente, o chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, esclareceu na Assembleia Legislativa que não existem, para já planos concretos para a utilização e desenvolvimento da área marítima sob jurisdição do território. 

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