Eu é que sou a verdadeira Câmara de Comércio Portugal-China

por Guilherme Rego
Rute Coelho

Y-Ping-Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, fundou uma nova Câmara de Comércio Portugal-China e abriu uma guerra verbal com a antiga Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, criada em 1977.

Está aberta a guerra no mercado das relações económicas entre Portugal e a China porque agora há não uma mas duas Câmaras de Comércio luso-chinesas. Se parece confuso, é porque é mesmo.

Há uma semana foi criada a Câmara de Comércio Portugal-China PME (CCPC-PME), liderada pelo conhecido líder da Liga dos Chineses em Portugal, Y-Ping-Chow.

Há 43 anos foi fundada a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), presidida por João Marques da Cruz, que reclama o título de “verdadeira e única” Câmara do Comércio neste setor e informou o Governo português e a Embaixada da China disso mesmo. “Informámos que a Câmara do Comércio somos nós. Mas não vamos avançar para a via judicial”, afirma Marques da Cruz ao Plataforma.

Este gestor português radicado em Macau, é cidadão do território chinês e, antes da pandemia da Covid-19, dividia o seu tempo entre Macau, Hong Kong e Portugal.

Vitalino Canas, ex-deputado do PS e advogado, tem “relação com as coisas chinesas”, como diz, desde que foi para Macau em 1986. “Sou consultor da nova Câmara do Comércio e só não sou da antiga porque nunca me convidaram”.

Conheça as razões dos dois lados da “trincheira”. Estão abertas as hostilidades:

O nome – o motivo da polémica

João Marques da Cruz, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), é taxativo: “Se a nova associação tivesse outro nome, como Centro de Negócios Portugal-China, não haveria para nós qualquer problema. É uma questão de transparência”.

Vitalino Canas, consultor da nova CCPC-PME, não vê, pelo contrário, qualquer questão com o nome. “Nada impede que haja mais associações com nomes e objetos semelhantes. Não há nenhum problema em ter várias associações apostadas em reforçar as relações entre Portugal e a China”, afirmou, admitindo que se fossem “às dezenas”, como o Plataforma sugeriu, “já seria um problema”.

Já Marques da Cruz insiste que a nova “não é uma verdadeira Câmara do Comércio porque ainda não tem o estatuto de utilidade pública”. “É uma associação que acaba por ser um logro”.

O trabalho com as PME – “Não inventaram a pólvora”

A nova Câmara de Comércio Portugal-China PME (CCPC-PME) pretende apoiar pequenas e médias empresas portuguesas interessadas em exportar e importar de e para a China estando já prevista a criação de “fundos de investimento” na área do turismo e setor agroalimentar. “Vamos direcionar-nos para uma área que não está suficientemente coberta, que é apoiar as PME portuguesas que têm menos capacidade de internacionalização, na entrada do mercado chinês”, explica Vitalino Canas.

Mas o trabalho com as PME, o ex-líbiris da nova Câmara do Comércio, é reclamado pela antiga como a sua bandeira desde sempre. “Eles não estão a inventar a pólvora”, ironiza Marques da Cruz. “Nós temos mais de 300 empresas sócias ativas e a maior parte são PME’s portuguesas, mais de 90%”.

Já Vitalino Canas assegura que há trabalho para todos. “As PME são o sustentáculo da economia portuguesa e um setor muito variável, dinâmico e evolutivo. Nas áreas do turismo e agroalimentar são empresas muito pequenas que não conseguem dedicar tempo e recursos à internacionalização”.

A confusão que vai ser em eventos

João Marques da Cruz lembra que “só existe uma Câmara de Comércio Portugal-Espanha ou uma Portugal-Angola”. “Porque é que aqui hão-de ser duas?”, questiona. E admite que esta “bizarria” pode criar uma “confusão” em eventos internacionais organizados por ambas, por causa de partilharem o nome “Câmara do Comércio”.

O gestor assegura não ter quaisquer problemas com Y-Ping-Chow e que até já participou em iniciativas organizadas pelo presidente da Liga dos Chineses em Portugal. “Mas ele podia-se ter apresentado com uma lista alternativa a eleições na Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Teria sido preferível”.

Vitalino Canas, por sua vez, desvaloriza a polémica: “Há milhões de empresas na China e em Portugal que parece desnecessário discutir a existência de duas Câmaras do Comércio. De certeza que as duas terão condições de se entender”.

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