Mundo impreparado para crise global causada pela pandemia

por Arsenio Reis
António Bilrero

A crise de saúde pública global causada pela pandemia da Covid-19 estendeu-se rapidamente à sociedade e à economia. Chegou sem avisar e especialistas avisam que veio para ficar. Ninguém estava preparado para ela, dizem. Agora há que recuperar a confiança e rumar à recuperação.

Carlos Cid Álvares, gestor, atualmente à frente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau, corrobora a tese da impreparação da humanidade e das sociedades para enfrentar um problema desta dimensão.

“O mundo atravessa problemas não esperados e para os quais nem mesmo os mais fortes e poderosos estavam preparados”, diz o gestor em declarações ao PLATAFORMA.

O especialista prevê que depois do cenário pós-Covid, “com efeitos ainda não estimados em termos de número de vidas perdidas e de sistemas de saúde levados até à exaustão, virá a pandemia económica”.

Para Carlos Cid Álvares, esses “impactos são já visíveis em termos de desemprego, de não criação de riqueza e redução da dimensão das economias dos países e, por conseguinte, da capacidade de distribuição da riqueza criada, pelas populações”.

“As pessoas em casa consomem apenas bens essenciais e em menos quantidade e portanto há uma redução brutal da procura de bens e de serviços. Ao não poderem trabalhar, uma grande parte do tecido empresarial pára e, portanto, não há oferta de bens e serviços, ou assiste-se a uma redução enorme dessa oferta”, observa.

Segundo o responsável, levantam-se, no imediato duas questões: “quanto tempo vai durar esta disrupção e qual vai ser a velocidade da recuperação”.

E avança com dois cenários possíveis: “será em “U”, levando mais tempo (países muito dependentes de exportações e do turismo, ou em que a sua capacidade para investimento público e de mobilização de fundos seja menor), ou em “V” (países com maior peso do mercado interno e com maior capacidade para dinamizar gastos públicos e investimento e para a mobilização de fundos para colocar o tecido produtivo novamente em funcionamento) “.

Carlos Cid Álvares lembra que os diferentes governos estão a lançar medidas que procuram fazer chegar “a liquidez necessária para apoiar as famílias e as empresas, para proteger o emprego e relançar o investimento quer público quer privado”, mas questiona se “chegará a tempo” e se “será suficiente que famílias e empresas não colapsem”.

“Situações excecionais, exigem medidas excecionais”, defende, recordando que “já há países que entenderam que as ajudas necessárias deverão aproximar-se de 15 por cento dos respetivos produtos internos brutos [PIB]”, avança o presidente do banco emissor de Macau (juntamente com o Banco da China), admitindo que parte dessas ajudas “não deverão ser objeto de reembolso por parte dos beneficiados, atribuindo-se sim a fundo perdido”.

Já Patrick Huen, vice-presidente e diretor executivo do Industrial and Comercial Bank of China (ICBC), diz não acreditar que “a epidemia possa dar azo a uma crise financeira em Macau”.

“Os bancos vão certamente debater-se com uma queda nos lucros e com um aumento do crédito malparado, mas entendo que tanto os bancos, a título individual, como o sistema bancário num todo, têm robustez para aguentar o impacto da tempestade”, sustenta em declarações ao PLATAFORMA.

Para o gestor, esta análise é válida “desde que as medidas de controlo e as limitações impostas a quem queira visitar Macau não se arrastem por um período de tempo muito prolongado”.

“Neste momento, devo dizer que estou otimista, uma vez que o surto epidémico perdeu intensidade no Continente”, diz.

Avança ainda que “a gestão de riscos vai encabeçar a lista de prioridades no âmbito da reforma do sistema que tanto os governos como o setor privado terão que promover”, na sequência da pandemia.

“Os governos estarão ocupados a conceber medidas que possam impulsionar as economias locais”, conclui o gestor.

CRISE E INCERTEZA
O presidente do Banco Mundial (BM), David Malpass, reconhece que as medidas anunciadas pela instituição são insuficientes para combater o novo coronavírus e os efeitos sobre a economia.

“Se não agirmos rapidamente, os ganhos de desenvolvimento dos últimos anos podem ser facilmente perdidos”, defende.

Em abril, Malpass tinha anunciado que o BM pode disponibilizar até 160 mil milhões de dólares em crédito nos próximos 15 meses.

Já a chefe do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Gueorguieva, admite que a Covid-19 afetou a ordem social e económica de forma nunca vista antes e que há uma grande incerteza sobre a profundidade e duração da crise.

“É claro que o crescimento global em 2020 será muito negativo. Espera-nos a pior recessão económica desde a Grande Depressão”, adiantou que o crescimento do rendimento per capita em mais de 170 países este ano será negativo e destacou que os países em desenvolvimento e de baixos rendimentos de África, América Latina e Ásia, enfrentam grandes riscos.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, espera permanecer em modo de combate a crises até 2021 para enfrentar um “declínio sem precedentes” na economia da Zona do Euro.

As projeções da equipe do BCE sugerem que o PIB da área do euro poderá cair entre 5 por cento e 12 por cento este ano. “Um “novo normal” “, conclui.

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!