Imobiliário. Rentabilidade vai crescer em cenário pós-Covid

por Arsenio Reis
Paulo Rego

Nestor Ng, sócio da Anzac, imobiliária de Macau que opera também no mercado internacional, acredita que a rentabilidade dos investimentos no setor será ainda mais atrativa no pós-covid-19. Mostrou-se também disponível para explorar a oferta de novos serviços, aproveitando o papel de Macau enquanto plataforma asiática para os países de língua portuguesa.

PLATAFORMA – Crises económicas/financeiras frequentemente afetam o mercado imobiliário. Qual é o impacto atual nos preços de mercado em Macau?
Nestor Ng – Entre janeiro e março, as vendas desceram em mais de metade, mas em março e abril recuperaram após alguns empreiteiros terem lançado promoções especiais de reduções fiscais. Em comparação com 2019, o volume de vendas continua a ser inferior em cerca de 15-20 por cento. Transações de arrendamentos também desceram pelo menos 30 por cento, e espera-se um crescimento no número de lojas e escritórios vazios no mercado.

– Como podem as medidas do Governo de Macau ajudar este mercado?
N.G. – Existem alguns regulamentos que limitam novas compras, por exemplo o imposto de selo que é 10 por cento superior para quem não possua BIR. Acrescem ainda o imposto de selo adicional e as regras de hipotecas. Compreendemos que estes regulamentos procuram estabilizar o mercado imobiliário, porém recentemente as transações e preços continuam reduzidos.
Sugiro por isso que a administração considere rever os regulamentos de hipotecas para permitir que os credores possam aumentar a percentagem dos empréstimos para preços superiores a 8 milhões e, para compradores que possuem uma propriedade, permitir o reembolso do imposto extra da segunda propriedade, caso a primeira seja vendida dentro do espaço de 24 meses, em vez dos atuais 12 meses.

– Esta crise não teve origem em políticas, economia ou comportamentos de mercado… Poderá tudo regressar ao normal? Ou estaremos a enfrentar uma nova realidade estrutural?
N.G. – Prevemos que a situação seja mais positiva do que no início do ano, mas será com certeza diferente. A procura será menor devido aos ajustes económicos. Lojas e serviços de restauração serão afetados. Prevemos também que várias empresas reduzam o tamanho. Venda e marketing online será a nova tendência em todos os mercados. Lojas poderão passar do modelo tradicional para espaços de escritório/armazém. Para residências, ainda existirá a procura de jovens compradores ou de pessoas que querem mudar para uma casa melhor.

– Qual será a atitude mais inteligente para estes compradores a médio e curto prazo?
N.G. – A oferta de terreno é limitada, tal como os projetos aprovados. Também é esperado que a oferta de unidades de luxo aumente nos próximos meses com regulamenos
ajustes económicos. Poderá haver mais descontos nesse espaço de tempo, avaliações pelos credores e ofertas com termos de conclusão mais curtos poderão conseguir um poder de negociação mais forte.

– E para os vendedores?
N.G. – Potenciais compradores ou inquilinos são, durante este período, na maioria pessoas que procuram propriedades bem preparadas. É melhor colocar propriedades no mercado depois de serem remodeladas, pois irão atrair mais compradores.

– Têm-se expandido em diferentes países… Segundo este contexto, qual é a estratégia para o continente?
N.G. – Os compradores do continente procuram valorizações e rendimento através de alugueres, com licenças de imigração/residência a serem um valor acrescentado. Grandes cidades por todo o mundo continuam a atrair compradores chineses, e esperamos que exista algum ajuste de preços depois desta crise global do coronavírus que irá tornar toda esta rentabilidade ainda mais atrativa do que antes.

– Portugal em específico é um dos focos. Qual a estratégia para o país?
N.G. – Portugal é um dos focos da nossa firma, temos em consideração o crescimento económico e potencial forte da Europa. O sistema de vistos gold também é muito atrativo para potenciais compradores, e várias grandes cidades possuirão vários tipos de propriedades no mercado.

– A ligação a outros países de língua portuguesa é um obstáculo inevitável? Ou é uma oportunidade?
N.G. – Visto que Macau serve como uma plataforma asiática para países de língua portuguesa, existem várias oportunidades para oferecer os nossos serviços. Estou disposto a explorar mais esta área no futuro.

– O Chefe do Executivo de Macau salientou o papel de Macau em auxiliar a China na reforma e abertura ao resto do mundo. Tal é relevante para a especialidade?
N.G. – Somos não só uma agência imobiliária tradicional, como também oferecemos serviços de consultoria para fundos de investimento e diferentes perfis de investidores na China, Hong Kong e Macau. Já há algum tempo que estamos a ligar investidores chineses a mercados de países de língua portuguesa, especialmente Portugal.

– Com o contexto extraordinário da crise criada pela Covid-19, como podem os peritos de Macau ajudar investidores internacionais chineses a chegar a países de língua portuguesa?
N.G. – Com este contexto, os investidores chineses têm observado as políticas e planos de saúde de vários países, tal como os comportamentos económicos e ajustes de mercado. Pessoalmente, depois de falar com vários investidores e gestores de fundos, acredito que compreendem a necessidade de inovar, rever planos de investimento e modelos de negócio. Todos compreendemos que algumas coisas terão de mudar. O conhecimento, rede, e portfólio que temos em mãos nos mercados de língua portuguesa, particularmente em Portugal, apresenta novas oportunidades que procuramos oferecer aos clientes. Visto que em Macau nos posicionamos como peritos nesta plataforma, um dos objetivos é criar uma ligação entre os empreiteiros, gestores de projeto e instituições financeiras em Portugal com os nossos clientes na Ásia.

– Com esta nova administração, Macau iniciou um novo ciclo. Acredita que Macau irá reforçar as forças para promover essas ligações ao estrangeiro?
N.G. – Tendo Macau sido uma colónia portuguesa, possui uma ligação forte ao respetivo sistema legal, financeiro, político e comercial. Existem vários peritos em Macau com conhecimento e ligações aos setores profissionais portugueses: tributário e financeiro, legal e comercial, etc.
O principal foco da empresa é gestão de projetos imobiliários e de investimento. A crise já chegou e temos de saber lidar com ela. Porém, o futuro também, e temos de nos focar em novas oportunidades. “Conhecimento local, exposição global.”

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