O discurso de Ho Iat Seng tem uma carência: o apoio às empresas e ao emprego é impreciso; não é claro o seu perfil nem a sua dimensão. Não é fácil, mas é preciso uma visão de médio e longo prazo, neste tempo de incertezas. Mais clara e assertiva é a sua visão política, bem como as prioridades que assume: reforma da Administração, modernização legislativa, diversificação económica… e a dupla alma de Macau: integração regional e abertura ao mundo.
É longo o debate sobre a verdadeira intenção de Deng Xiaoping. Diz a tese conservadora: se há um Segundo Sistema; logo, depende do Primeiro; a Lei Básica é filha Constituição e emana da Assembleia Nacional Popular. Ho Iat Seng assume-o – sem pruridos. Chamem-lhe nacionalismo ou amor à Mãe Pátria… é, sobretudo, o discurso de Xi Jinping. A linha modernista segue outro racional: se há um Segundo Sistema; então é porque o Primeiro precisa de reforma. Curiosamente, Ho Iat Seng também o assume: Macau deve contribuir para as reformas na China e a sua abertura ao mundo – nomeadamente no contexto da Grande Baía.
Na política manda o timing – a mensagem de Ho Iat Seng é própria do seu tempo: a autonomia rejeita conflitos com a Nação; assume a integração como desígnio político; e oportunidade para diversificação económica. Faz bem – tem sentido. Mas a alma reformista também lá está; e revela-se. Ainda bem – concilia.
A terceira via é a do meio: a dupla alma. Não é novidade conceptual; mas a semântica conciliadora define o novo Chefe do Executivo: massaja o ego ao Primeiro Sistema… e alimenta o do Segundo. A angústia do ataque ao Segundo Sistema não encontra neste discurso nenhuma prova da desgraça; quem pensa que amar a Mãe Pátria é andar para trás, talvez perceba que ela própria alimenta a semente reformista e multilateral. No news… good news.