Ligações ferroviárias em tempos de pandemia

por Arsenio Reis

Custo e maior rapidez estão a tornar os comboios o meio de eleição durante a pandemia do Covid-19 nos transportes entre a China e a Europa de componentes, produtos e outros bens essenciais à atividade das indústrias. 

A redução do volume de transportes a nível mundial, em particular, na Europa está a afetar os níveis de atividade das indústrias já de si atingidas pelas restrições resultantes do surto de Covid-19. 

Com os sistemas de produção e de distribuição afetados, a Nova Rota da Seda tem vindo a ganhar relevo na presente conjuntura de crise. O que resulta no recurso generalizado a uma forma de transporte – o comboio de mercadorias – que constitui uma das espinhas dorsais do projeto. Na qual a China investiu até agora mais de 450 mil milhões de dólares em infraestruturas, segundo dados de março de 2020. 

Desde que se iniciaram os transportes ferroviários entre a China e a Europa, há pouco menos de uma década, que o volume de carga tem sido sempre superior no sentido China-Europa do que no sentido inverso. Um sinal da importância para as empresas e consumidores europeus deste setor de transportes. 

As empresas europeias mais afetadas durante o pico da crise na China, nos primeiros meses de 2020, foram as construtoras automóveis e, principalmente, as dependentes de componentes eletrónicos em vários segmentos, uma parte importante daquilo que se designa como “High-End Made in China”. 

O peso da produção da China na economia mundial, sensivelmente 16 por cento da produção total, ilustra o significado daquela dependência para a indústria europeia e mundial, da qual é um dos principais fornecedores. Além disso, a China é o segundo parceiro comercial da Europa e a Europa o principal parceiro comercial da China, notava em julho de 2018 o relatório – “As relações entre a União Europeia e a China: Uma nova era de cooperação estratégica mais estreita?” – do Parlamento Europeu. 

CUSTOS E DISTÂNCIAS
A ligação entre a histórica cidade de Xian, na China, a cidades como Hamburgo ou Londres, através da Turquia e da Ásia Central, está a encurtar distâncias e a reduzir prazos de entrega, o que é essencial para as indústrias afetadas no ritmo de produção pela crise na saúde mundial. 

Uma viagem de um porta-contentores, através do Canal do Suez, significa uma distância de mais de 20 mil quilómetros entre um porto na China e o destino na Europa. Um trajeto de comboio representa, mais ou menos, metade daquela distância. Uma viagem com a duração de 10 a 12 dias, consoante o ponto de partida e o de chegada. Por via marítima, mais ou menos, o dobro. Não só as distâncias são distintas como é distinta a velocidade de um porta-contentores e de um comboio de mercadorias, ainda que o custo deste seja 2,5 superior ao transporte marítimo. Mas a curta duração relativa da viagem suplanta o custo. 

Dado fundamental no transporte de mercadorias com ciclos de vida muito curtos, incomportáveis no transporte marítimo e inaceitável no aéreo, devido ao elevado custo. Exemplo: produtos eletrónicos e os submetidos a ciclos sazonais curtos. 

Em 2019, o volume transportado ultrapassou as 800 mil TEU. Cada TEU (Twenty foot Equivalent Unit) é equivalente ao conteúdo de um contentor com seis metros de comprimento por 2,3 de largura e 2,3 de altura. 

Em número de comboios, só entre janeiro e finais de fevereiro de 2020, mais de 1130 tinham viajado entre a China e a Europa – um aumento de 6 por cento em relação ao mesmo período de 2019, segundo o site Train Freight. O que sucedeu no período em que o surto de Covid-19 atingiu mais duramente a China. O mesmo site refere que, entretanto, o nível de tráfego ferroviário está quase normalizado. 

As restrições em vigor nos transportes aéreos (uma quebra de mais de 60 por cento entre a Europa e a China), marítimos e rodoviários vieram reforçar a importância dos meios ferroviários, notava recentemente um texto na Forbes, a sublinhar que se trata também da melhor opção entre a lentidão dos porta-contentores e o elevado custo do frete aéreo nas longas distâncias. Um custo que triplicou desde o início da pandemia. 

Uma outra vantagem: esta ambiental. O comboio é um dos meios de transporte que emite menos CO2 por tonelada transportada. 

UMA LIGAÇÃO, UMA DÉCADA
As ligações entre a China e a Europa (nos dois sentidos) iniciaram-se em maio de 2011 com uma viagem de comboios de mercadorias entre Chonqing e Anvers, na Bélgica. 

Dois anos depois, é lançada a iniciativa Uma Faixa, Uma Rota, e os transportes diretos China-Europa não cessam de crescer desde então. 

Parte significativa dos países europeus está hoje ligada à China, de Espanha ao Reino Unido, da Polónia à França. 

Aspeto relevante é que estas viagens ligam os principais polos tecnológicos e centros de desenvolvimento económicos chineses e os grandes centros logísticos europeus. 

Prova de que a China precisa da Europa como a Europa necessita da China. 

Abel Coelho Morais 09.04.2020

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