O vírus chega primeiro ao cérebro e tira-nos o cheiro e o paladar

por Guilherme Rego

Um grupo de cientistas chineses observou o cérebro de pacientes que morreram com a Covid-19 e contrapôs essas observações com experiências que já tinham realizado em animais. Constataram os investigadores que o coronavírus chega ao sistema nervoso, por via intranasal, antes mesmo de chegar aos pulmões. As conclusões desse estudo foram referidas por Robert Lent, Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e investigador do Instituto D’Or, num artigo publicado no jornal O Globo.

Resultados que ajudam a perceber a mais recente pesquisa sobre os efeitos neurológicos do vírus. A perda de olfato e/ou paladar são sintomas comuns em pessoas com a COVID-19 na Europa, de acordo com um estudo coordenado por dois médicos otorrinolaringologistas vinculados à Universidade de Mons (Bélgica), noticia a AFP.

Este estudo realizado em 417 pacientes infetados (263 mulheres e 154 homens) com o novo coronavírus, mas de maneira “não grave”, mostra que 86% apresentam problemas com o olfato (a maioria não sente mais nada) e que 88% têm distúrbios do paladar. Os distúrbios olfativos geralmente ocorrem ao mesmo tempo que os sintomas gerais (tosse, dor muscular, perda de apetite, febre) e os sintomas otorrinolaringológicos (dor facial, nariz entupido) da doença.

Às vezes, porém, a perda do olfato, ou do paladar, ocorre após esses outros sintomas (em 23% dos casos), ou antes (em 12% dos casos).

Avanço rápido para o cérebro

“Dentro das fibras nervosas, os vírus passam de um neurónio a outro pelas sinapses, microestruturas que garantem a comunicação entre os neurnios. Assim são conduzidos com grande velocidade em direção ao cérebro, justamente para regiões-chaves do controle cardiorrespiratório, encarregadas da monitoração e comando dos músculos e vasos sanguíneos que mantêm no nível certo a função do coração e dos pulmões´”, escreveu o Professor Robert Lent.

O avanço do vírus é extremamente rápido. “Os primeiros dados epidemiológicos de Wuhan, na China, mostraram que o tempo médio entre os primeiros sintomas e a dificuldade de respirar foi de 5 dias, e 8 dias depois os pacientes já precisavam de internamento em UTI para garantir sua sobrevivência com respiradores”, sublinhou.

Saber sobre a neuroinvasividade do coronavírus por via intranasal é importante na prevenção e explica “a relevância do uso de máscaras respiratórias” e a eficácia de isolamento social, observa Robert Lent.

Além disso, “aponta para a importância de desenvolver medicamentos antivirais que possam ser administrados por inalação nos primeiros estágios da doença, e capazes de penetrar a barreira hematoencefálica que, como o nome indica, controla a passagem de substâncias injetadas no sangue para o interior do cérebro”.

Pessoas com condições físicas e neurológicas causadas por condições neurológicas podem apresentar sintomas específicos associados à infeção com a Covid-19, segundo o coordenador médico da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, Guilherme Olival, em declarações ao jornal Estado de S.Paulo. Podem apresentar perda de memória, mobilidade e força, além de fadiga repentina.

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