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Guerras do petróleo testam nervos dos produtores

As capacidades de armazenamento do petróleo poderão estar esgotadas no prazo de semanas, forçando novas quedas de preço.

A desaceleração da economia mundial, resultante da pandemia do Covid-19, e a decisão da Árabia Saudita em libertar mais petróleo para exportação no quadro da guerra de preços com a Rússia estão na origem do fenómeno.

Nesta quarta-feira, preço do Brent cotou-se a 25 dólares o barril, um recuo de quase 5% em relação aos dias anteriores. No início de 2019, rondava os 60 dólares por barril.

Um outro tipo de petróleo mais sensível às variações de preço, o WCS canadiano, estava hoje cotado a pouco mais de quatro dólares o barril. Em janeiro de 2019, vendia-se a 34 dólares.

Sinais que a decisão de Riade, tomada há três meses após o fracasso das negociações da OPEP com a Rússia para a redução da produção, está a produzir efeitos e a ampliar os resultantes do impacto do surto do novo coronavírus nas economias.

Então, os sauditas anunciaram um aumento recorde de 12 milhões de barris por dia, a iniciar-se em abril e a atingir o valor máximo em maio, e ainda a colocação no mercado de mais 300 mil barris/dia, a preços de desconto, recordavam nesta quarta-feira os analistas. Uma decisão confirmada no início da semana. Consequência imediata: acentuou-se a espiral descendente dos preços.

Com tão grandes quantidades de petróleo no mercado, as capacidades de armazenamento a bordo de petroleiros e em reservatórios terrestres tendem para esgotar-se a curto prazo.

Uma análise do instituto Eurasia aponta para esse cenário: “os inventários podem atingir o limite de capacidade dos reservatórios no espaço de semanas”, lia-se numa nota divulgada na passada segunda-feira.

Uma antevisão que coloca o momento crítico dentro de dois meses, isto é no início de junho, o que irá suceder mesmo que “os produtores voltem a restringir”, a breve trecho, as quantidades de petróleo que colocam no mercado, avisa o mesmo texto do Eurasia.

O resultado é que “muitas empresas poderão ter a existência em risco”, adverte a nota do Eurasia.

Valor negativo

“Há refinarias a perderem dinheiro em cada barril processado e já sem disponibilidade de armazenamento de petróleo”, explica Bjarne Schieldrop, analista de mercados citado pela CNBC.

Para o mesmo analista isto significa que o “valor recebido pelas refinarias tende a aproximar-se do zero ou tornar-se mesmo negativo”. As refinarias ficam obrigadas “a pagarem o transporte” do petróleo até suspenderem os seus trabalhos.

No mesmo sentido, uma análise da Goldman Sachs aponta que, apesar de existir atualmente uma capacidade de armazenamento em mais de mil milhões de barris disponíveis a nível mundial, os proprietários de muitos poços preferirão vender a preços mais baixos ou negativos a suspender a produção, pelos elevados custos daí decorrentes. Opção que será seguida especialmente no caso da extração em poços terrestres.

Mas com uma acentuada redução na procura, que foi de 10,5 milhões de barris/dia em março e que, segundo alguns especialistas, pode chegar aos 18 a 20 milhões de barris/dia, qualquer medida que se tome pode não ser suficiente. Ou ter um custo destrutivo insuportável numa conjuntura de retração da procura.

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