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Troca de informações global

Alexis Tam, o representante da delegação económica e comercial de Macau em Lisboa e junto da União Europeia, está a ser intermediário entre Macau, Schenzhen e a cidade do Porto. Já a Direção Geral de Saúde e o Ministério Negócios Estrangeiros portugueses admitem que há partilha de informação…a nível global, onde Macau é apenas mais um.

Agora que Portugal já teve, pelo menos, a primeira vítima mortal de Covid-19 e declarou o Estado de Emergência, as autoridades de saúde e os dirigentes políticos tentam colher lições de modelos bem-sucedidos no combate à epidemia, como é o caso de Macau. A recomendação de quarentena ou isolamento social à população é já a exemplo do que o território chinês se apressou a fazer e com êxito há mais de um mês.

O PLATAFORMA soube que Alexis Tam, o representante da delegação económica e comercial de Macau em Lisboa e junto da União Europeia, ofereceu-se para fazer a ponte entre a região, a cidade chinesa de Schenzhen e o Porto (cidades geminadas) na partilha de informação sobre o combate ao coronavírus, adiantou fonte próxima do quadro de Macau. Um resultado prático de uma conversa “sobre ventiladores” entre o autarca do Porto, Rui Moreira, e Alexis Tam refletiu- -se no anúncio feito em vídeo por Moreira de que a Câmara tinha importado ventiladores de Schenzhen, “produzidos naquela cidade chinesa e com certificado europeu”.

Cascais, a par com a cidade do Porto, vai também receber ventiladores de Schenzen, com certificado europeu, para serem usados em casos mais agudos de infeção por Covid-19, comunicou a autarquia. A importação dos equipamentos de saúde que serão usados nos Hospitais de Cascais e São João, no Porto, contou também com a intervenção de Alexis Tam, acrescenta o comunicado.

O PLATAFORMA contactou a Delegação Económica e Comercial de Macau esta semana para tentar obter uma resposta junto da adjunta de Alexis Tam, mas foi informado pelo único funcionário que restava no edifício da Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, de que todos os quadros tinham sido “enviados para casa”. O território chinês voltou a apertar as medidas. As fronteiras foram fechadas na última quarta-feira a todos os que chegarem à cidade, exceção para residentes, trabalhadores não residentes (TNR) e pessoas vindas da China interior, Taiwan e Hong Kong. A quarentena é aplicável a todos. Os níveis de prevenção voltaram a subir devido aos, pelo menos, três novos casos importados desde segunda-feira.

Até ao passado dia 15, a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) tinha estado 40 dias consecutivos sem novos casos de infeção. Desde domingo conta com, pelo menos três novos casos importados que surgiram em 48 horas.

Contactos globais

A Direção Geral de Saúde (DGS) portuguesa não admitiu ter pedido diretamente a Macau informações específicas sobre o combate à doença, mas os Serviços de Saúde da RAEM são um dos órgãos com quem mantém contactos. “A Direção Geral de Saúde mantém uma relação próxima com todas as Autoridades de Saúde a nível europeu e global, através de plataformas específicas para a partilha de informação”, informou o gabinete de comunicação da diretora-geral, Graça Freitas.

O PLATAFORMA contactou os Serviços de Saúde de Macau para saber mais sobre as medidas tomadas no território, mas o gabinete de comunicação respondeu que “atendendo à evolução epidémica em Macau” não era possível “responder com brevidade”. No Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português também há atenção às medidas profiláticas tomadas em Macau e na China, mas, aparentemente, não através de um canal direto. “Todas as medidas de combate ao vírus tomadas internacionalmente são importantes para Portugal. A concertação faz-se naturalmente, em primeiro lugar, no quadro da União Europeia”, respondeu a assessora do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

O PLATAFORMA perguntou também se já estavam a ser impostas restrições de viagens a membros do Executivo português e da diplomacia. Resposta do MNE: ” As viagens ao estrangeiro são instrumentos de trabalho dos membros do Governo, especialmente do MNE e dos Embaixadores, que devem ser realizadas quando necessário, tendo naturalmente em conta as circunstâncias de crise sanitária atualmente vividas”.

Sigam o exemplo de Macau

O bastonário da Ordem dos Médicos portuguesa qualificou de “calcanhar de Aquiles” a falta de proteção e a devida informação destinada aos clínicos. Miguel Guimarães avisou na passada terça-feira que os médicos eram já “20 por cento da população infetada” no país e sublinhou mesmo que é preciso “seguir o exemplo de Macau e não de Itália”. “Arriscamo- -nos a que muitos médicos e profissionais de saúde fiquem doentes.” Sem que sejam cumpridas as regras de proteção, “a situação pode tornar-se crítica e instável”, avisou.

Recorde-se que na RAEM foram impostas no final de janeiro medidas draconianas – fecho das escolas e dos casinos, encerramento de serviços públicos, entre outras – que ajudaram o antigo território sob administração portuguesa a estancar o número de infetados (10 casos positivos até à primeira semana de fevereiro, os quais já receberam todos alta hospitalar). O número de infetados no território subiu agora para 13, com os três novos casos diagnosticados esta semana, todos importados.

Comentário de Paulo Rego

Eurocentrismo totalitário

Somos PLATAFORMA, patrocinamos redes, relações, multiculturalismo… Simplesmente, não percebo a arrogância europeia no combate ao coronavírus. Para pedir ajuda e material clínico, já Alexis Tam é um herói, a China tem fábricas e dinheiro… Mas quando é para aprender, unir esforços, partilhar a experiências… já o vírus é chinês, a Europa renascentista, Macau filho de um Deus menor… É ridículo.

O epicentro do Covid-19 deu-se na China – ou foi lá assumido. Macau reagiu de forma dura, rápida e prudente; tornou-se exemplo global, colheu resultados; volta agora a apertar o cerco face a novos riscos. Está no país que controla a pandemia, intuiu o abalo político, a crise económica, a disrupção social… e acelera a busca da vacina, sem a qual o mundo continuará a penar. A distância a que Portugal olha para isto é lamentável.

Mandasse o bom senso e há dois meses estaria cá uma equipa portuguesa de virologistas, comunicadores, políticos, psicólogos… a estudar, a antecipar. Para quê os laços históricos? De que serve a parceria estratégica? Portugal ganharia tempo, experiência clínica, consciência política e sociológica… perde tudo na esquizofrenia de Bruxelas – burocratas incapazes de liderar.

Vejo nas redes sociais o escárnio e maldizer contra a diretora-geral dos Serviços de Saúde em Portugal. De facto, não se percebe de que planeta caiu a senhora aos trambolhões. Da irresponsável desvalorização dos riscos, à triste figura que faz cada vez que aparece, num país lúcido estava de quarentena… contra o contágio da estupidez. É nisto que aquele país confia?

Macau não é perfeito, este Governo tem ainda tudo a provar além do combate ao vírus; mas, nesta matéria, nada tem a aprender com Lisboa. Teria muito a partilhar, mas só com quem sabe aprender. A cegueira paga-se: muita gente na Europa já grita para que se suspenda a democracia e se ponha aquilo na ordem. Depois queixem- -se e venham a Macau estudar o Segundo Sistema.

Rute Coelho 20.03.2020

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