Medidas do Governo são boas, mas não chegam

por Arsenio Reis

O surto do novo coronavírus levou a uma grande descida no número de visitantes em Macau e a que a maioria da população da cidade, seguindo o apelo do Governo, não saísse de casa. O mercado ficou em pausa e fez com que os comerciantes locais não abrissem portas. Para dar resposta ao problema, o Governo apresentou uma série de medidas de apoio a pequenas e médias empresas, incluindo empréstimos sem juros, subsídios, benefícios fiscais e a emissão de vales de consumo eletrónico no valor de três mil patacas. Está ainda por anunciar o plano e datas para a implementação das medidas.

O surto teve um grande impacto em pequenas e médias empresas locais, especialmente as localizadas em áreas turísticas. O restaurante “Fong Seng Hin Mei Sek”, perto das ruínas de São Paulo, aberto há mais de dois anos, recebia maioritariamente turistas. Agora, depois do surto, pela primeira vez em vários anos, não se vê nenhum. Louis Kuok, gerente do restaurante, partilha que o restaurante se manteve aberto e que se virou para o mercado local. O responsável explica que, embora a receita diária do restaurante tenha aumentado em termos de serviços de entrega e takeaway, em geral os lucros desceram em 80 por cento. Guo diz que as medidas implementadas pelo Governo são positivas e que no mínimo ajudarão a que os pequenos negócios como o seu sobrevivam sem serem necessários despedimentos. “A emissão de vales de consumo eletrónico é uma forma de ajuda mais direta. Mas o nosso desejo não é não ter negócio e pedir dinheiro ao Governo”, ressalva.

Há dois anos, Anki passou de uma loja online para uma loja física, mas agora, devido à epidemia, voltou a vender apenas online. A comerciante está preocupada com o futuro, esperando, entretanto, conseguir aumentar o número de vendas online. Em relação às medidas do Executivo de apoio a pequenas e médias empresas, diz que não está muito dentro do assunto e que não pretende candidatar-se a qualquer apoio, pelo menos por enquanto. “A indústria da moda, que precisa de dinheiro maioritariamente para stock e renda, continua a conseguir gerar lucro suficiente para cobrir estas despesas. No entanto, se a situação se alastrar mais alguns meses e o processo de candidatura for simples, poderei considerar candidatar-me a algum apoio”, considera.

“As medidas do Governo para não enfrentam nem os sintomas nem a raiz do problema”, afirma Agostinho, dono de um café na zona do Jardim Luís de Camões. Para este pequeno comerciante, as principais despesas são a renda, as contas da luz e eletricidade, e os salários, que mesmo com ajudas de empréstimos não serão aliviadas, pois terão de ser pagas posteriormente. Agostinho defende que o Governo não compreende bem as necessidades dos pequenos comerciantes. “Eu tenho de pagar renda, mas o senhorio não tem possibilidade de diminuir esse valor, apenas me deixa pagar a renda com algum atraso. Por isso acho que isenção de contas de luz e água devia incluir comerciantes, e pelo menos metade das rendas deviam ser subsidiadas”, sugere.

Sobre os vales de consumo eletrónico, visto que o Governo ainda não partilhou o plano de implementação, Agostinho acredita que irão beneficiar pequenos comerciantes. “Mesmo sem estas três mil patacas (em vales de consumo eletrónico), as pessoas continuam a precisar de comer todos os dias. Por isso na verdade ainda não é muito claro se esses vales irão ajudar a impulsionar as vendas dos comerciantes ou não.”

Meimei Wong 21.02.2020

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